O que não se desvenda...
Calo-me e observo. Sob irônico julgamento, naturalmente. Por que essa ânsia de saber dos outros? Os porquês das frases e pensamentos escritos por escritores que, com certeza, ririam dessa angústia de desvendá-los quando nem mesmo se desvendam e nem de longe sabem de si. Um saberetismo superficial e vaidoso que em lugar algum pode chegar a não ser superficiais achismos sobre a personalidade de alguém que se tenta julgar através do que um dia escreveu. Onde estaria então a qualidade de tal escritor? Onde estaria sua capacidade de inventar, de criar? Por certo, há um quê aqui e acolá de sua personalidade. No entanto, querer pescar em seus escritos a sua vida íntima, os seus secretos pensamentos, talvez seja um pouco de ousadia. Prefiro apenas admirar. Afinal, quando escreviam, na verdade queria apenas escrever, colocar para fora esse dom, e sim, por que não, explodir as coisas que vivenciaram, que viram, que perceberam da vida ou que naquele momento, acabaram de criar. Não me desvendo, portanto, jamais hei de tentar desvendar alguém. A obra deve ser apreciada, acariciada, sentida e, talvez, analisada. Mas só a obra.