Desespero
Por um instante ele sentou na beira da calçada
Seu olhar vazio penetrava o nada
Enquanto tudo passava a sua frente
Ele imaginava como as coisas tinham chegado aquele ponto
Como um coração pode ser tão machucado
A ponto de querer desistir da vida
A ponto de não lhe restar esperanças
Os minutos foram passando e ele via que seu destino já não tinha jeito
Foi se lembrando das dores do mundo
Foi se esquecendo da essência do amor
Foi achando os pretextos, e desculpas mais mentirosas pra colocar a culpa em si mesmo
As vezes o seu coração se acalmava, era o caminho percorrido de uma lembrança a outra..
Enfim ele se levantou, dessa vez foram passando memórias boas em sua mente
Memórias de quando era uma criança, cheia de sonhos
Onde a maior preocupação era se o aviãozinho de papel voava tempo o suficiente
Ou quem pulava mais longe...
Se lembrou das vezes em que ficava até tarde acordado assistindo, e da adrenalina de acertar um passarinho com a pedra
Mas o barulho dos trilhos já estava se tornando ensurdecedor a essas alturas
Seus pensamentos estavam atordoados e a perda já machucava demais
Sua última lembrança então foi desaperecendo ao se lançar na frente daquela locomotiva desgovernada, e não havia arrependimento em meio aos seus últimos suspiros de vida
Assim terminou seu sofrimento neste mundo covarde, porque já não havia mais beleza nele aos seus olhos.
E então silêncio.