Ela se aproximou de minha mesa...
Ela se aproximou da minha mesa a passos curtos tentando ser mais silenciosa possível e até teria conseguido se não fosse o cheiro gostoso de amêndoas , que invadiu as minhas narinas, mesmo assim não sei por que não levantei a cabeça, pelo contrário mergulhei-a no caderno de português do senhor Osvaldo, ela ficou ali em pé com o caderno na mão , vinte e dois anos dando aulas faz com certas coisas nem precisem ser olhadas que por coincidência ou não ela era a vigésima segunda aluna, e o fato de dar aula para três turmas de certa forma não deveria mas usei isso como desculpa para nem lembrar do rosto dela muito menos do nome, como eu sei do seu número...Eu diria que livre associação ,perfume e número, já se passara doze minutos e até eu mesmo não sei porque eu não conseguia erguer a cabeça, o caderno do senhor Osvaldo estava correto, sem rabiscos, eu digo sem aquelas marcas que eles alegam ser de “tribos”, resolvi investigar um pouco mais e voltei cinco folhas, estavam em branco, não me considero um homem curioso, mas na verdade sendo desculpa ou não era obrigação minha como professor de continuar de certa forma invadindo a privacidade do rapaz, mais três folhas atrás e naturalmente reconheci o estilo, isto é, haviam certos conjuntos de palavras escritas de trás para frente, eu sei porque fazia isso no meu tempo de criança, algo estava escrito, larguei o caderno encima da mesa depois de sem pensar empurrar as coisas que estavam nela, dois livros de matemática, uma maça, um estojo verde que já me acompanhava dês dos meus vinte anos e uma pilha de cadernos, peguei rapidamente uma folha em branco e comecei a repassar o que estava escrito:
____Se alguém puder me ajudar, porque eu já não sei o que fazer, eu sinto o perfume dela em todos os cantos da minha casa, eu ouso a sua vos, a maneira com que o seu corpo flutua, o seu sorriso e as coisas que ela me diz, como aquela velha e surrada frase e tantas outras ditas por pessoas realmente apaixonadas, mas que olvidas por outras parece sem sentido e num certo ponto infantil para quem esta do lado de fora.
Dei uma pausa no meu raciocínio, e fiquei tentando lembrar qual frase que ele se referia, volto a folhear o caderno, e mais três páginas atrás outras duas frases e rapidamente reescrevo-as e qual foi a minha surpresa em ver que esta escrito em latim, mais do que de presa levanto a minha cabeça e procuro pelo senhor Osvaldo ,mas a única coisa que enxergo na minha frente é uma pequena tatuagem de um antigo deus pagão e do outro lado, uma frase que provavelmente eu teria que usar uma lupa para ver o que esta escrito e no meio se não o mais lindo um dos mais lindos e bem formados umbigos que eu já vi na minha vida, e quanto mais eu aproximava os meus olhos, agora não mais para saber o que estava ali escrito, mas para enxergar bem mais de perto aquele umbigo, ele começou a mexer de forma cadenciada e os ínfimos pelos a sua volta, pelos, que pareciam pluminhas quase sem cores e senti uma sensação estranha ao mesmo tempo em que o meu corpo começou a reagir de forma estranha e a minha boca começou a ficar ressecada fazendo com que a minha língua umedecesse os meus lábios e o ar quente que saia de minha boca cada vês mais perto daquele umbigo faziam com que ele agora já em movimentos descontrolados viesse cada vês mais em minha direção e como dominado pela insanidade minhas mãos tocam algo firme e ao mesmo tempo macio e com força puxo para a minha boca e meus lábios achatam-se e minha língua preenche aquele maravilhoso e sensual umbigo que como uma taça vira em minha boca um suave, doce e salgado suor e quando a minha boca, lábios e dentes vão subindo, sugando aquela pele, olho de “supetão” e me dou por conta do que está acontecendo, afasto o meu rosto e a olho bem dentro daqueles olhos verdes, seu nariz levemente afunilado, uma boca carnuda, coberta por um batom verde, rapidamente tiro as minhas mãos da cintura dela e olho para a turma de alunos e todos estão olhando para mim, olhares, expressando todos os tipos de pensamentos e emoções em uma tentativa rápida de retomar o controle pergunto pelo senhor Osvaldo.
____Senhor Osvaldo ?
____Senhor Osvaldo Matisse” ?
____Professor, o senhor Osvaldo não é estudante e já faz três meses que ele não vem dar a sua matéria, que por falar nisso a sua substituta nem é da matéria dele.
Lentamente me virei para ela, e olhei-a bem dentro dos olhos, o seu perfume continuava forte, porém agora eu também já sentia o gosto, ela continuava ali parada também com os olhos fixos em mim e volta e meia também passava a sua língua, pequena, fina, rosa em seus lábios verdes, não sei quanto tempo ainda ficamos parados nos olhando, até mesmo o barulho do sinal, da sirene informando que a minha aula já havia terminado e o que os colegas dela diziam soavam aos meus ouvidos como simples sons desconexos, sem sentido ou entendimentos, no que esbarrou por mim o último aluno ela passou a mão direita no meu rosto e esmagou meus lábios e virando-se foi saindo e pude ver as suas coxas torneadas bem definidas, uma pequena saia branca que não escondia que ela ,não usava calcinha, em suas costas uma outra tatuagem, de um anjo sem uma das asas, em uma mão um cálice em outra um garfo, um cabelo bem cuidado, preto com vermelho que só lhe cobria as omoplatas, um dos topes do nó da blusa estava solto sobre a sai, no que ela sai volto a olhar para a mesa, junto as coisas do chão e pego o caderno e nas duzentas e dezenove páginas somente aquelas estavam escritas, pelo menos era o que eu imaginava, pois não bastaram mais do que quinze minutos de olhos voltados para as páginas, que recordações a muito esquecidas por mim voltaram com toda a força e o que vi, foi mais uma coincidência eu também escrevia o que pensava com caneta sem tinta, achando que manteria segredo até para mim das coisas que eu escrevia, fechei rapidamente o caderno e olho para o chão perto da porta, uma sandália de tiras azuis, só um pé, me pareceu nada original, já vi muitas pessoas deixarem coisas com desculpas para voltar, mas isso, como também não posso acreditar que ela teria deixado para que de Certa forma eu fosse atrás dela, não ouso mais nenhum barulho sequer na escola, vou até a porta e quando olho para o chão do corredor a outra sandália, junto as duas e as coloco em cima da minha mesa e fico pensando na loucura que eu fiz, e tentando entender o que teria acontecido e ao mesmo tempo tentando entender também como aquele caderno veio parar nas minhas mãos, na verdade não existe possibilidade nenhuma de eu ter pegado aquele caderno, muito menos ainda de que ele tenha sido largado em cima da minha mesa, portanto, tenho certeza que ele foi largado nas minhas mãos ,mas porque eu não sei, abro a gaveta da minha mesa, a primeira coisa que eu vejo é uma garrafa de uísque , dou uma olhada para a porta aberta da minha sala e sem pensar muito tiro a tampa e dou uns bons goles que parece que vão arrancar a minha garganta fora, dou umas tossidas fortes e acendo um bom cigarro, tiro o relógio do meu pulso e o guardo na última gaveta, mas sei que já passam da meia noite, onde vou dormir?
A dúvida logo me sai da cabeça, afinal de contas eu moro aqui, volto a sentar-me à mesa e sirvo o meu bom e velho uísque em um copo de plástico, sento-me e procuro no livro de chamada, número vinte e dois, João Antônio de Souza, não me lembro de não ter atualizado este livro, bom vamos para a secretária, ao levantar-me sinto uma tontura e uma grande dor de cabeça, olho para a garrafa, vazia, no que começo a caminhar pelo corredor sinto o cheiro de amêndoas, rapidamente me viro para trás para os lados e olho diretamente para o relógio no final do corredor, sete horas e quinze minutos, poxa já é dia, mas cadê os alunos, faxineiras, professores, o silêncio toma conta ate mesmo da minha respiração...