E O CIÚME, COMO VAI?

O ser humano possui uma mazela sentimental consideravelmente desgastante: o ciúme. Este é como poucos dos sentimentos incômodos que desequilibram qualquer vivente. Faz o homem perder o sono, perder a fome, não raciocinar direito, perder a concentração. Na verdade, concentra-se apenas no objeto do ciúme; o que nada mais é do que se concentrar em si mesmo. Há toda uma transformação de semblante. Em alguns acontece o fenômeno descrito na música do grupo Ultraje a Rigor, “ciúme”: “Mas eu me mordo de ciúme”.

Há os que conseguem disfarçar essas tais “mordidas”; outros não. Há aqueles que as expressam com todas as letras. Outros são mais discretos. Portanto, o fato é que ninguém escapa. Afinal, todos nos “mordemos” em algum momento. Uns mais, outros menos. Só sendo estóico em estágio avançado para não se enredar nestas afecções sentimentais.

Há aqueles que resolvem até escrever sobre o assunto para descarregarem o incômodo. Aliás, acredito que um dos melhores meios de lidar com certos problemas sentimentais é usar da sublimação. Uns escrevem; outros pintam; uns cantam; outros praticam esportes. Claro que não estou dizendo que as práticas artísticas ou de outras ordens são técnicas de sublimação. Afirmo apenas que para isto elas podem servir.

De qualquer forma, é preferível sublimar a reprimir. Repressão pode resultar em expulsar o problema por canais somáticos. O que é problemático.

Já me disseram que o ciúme é expressão de amor. Não sei. Questiono. Parece-me que se trata de um tipo de insegurança. Será? Ou será mesmo expressão de amor? Quem sabe, tem a ver com as duas realidades. Ou com nenhuma. E se for expressão de puro egoísmo? É complicado. Sempre haverá quem diga que é algo igual ou bem diferente do que pensamos.

O dicionário Larousse Cultural diz que ciúme é “inquietação provocada pelo desejo de posse exclusiva do ser amado ou de um objeto”. Este conceito é pertinente. Há várias palavras aqui que complicam o problema. Inquietação. A gente não sabe onde se colocar. Dá um faniquito terrível (“eu me mordo...”). Desejo em si não é problema. O problema aparece quando a locução se incorpora: “de posse exclusiva” (egoísta). Ou seja: não se quer facultar a ninguém o acesso à pessoa amada ou ao objeto querido. É neste ponto que mora o problema.

Bom! Enquanto alguém não escreve a história do ciúme, nós vamos refletindo como podemos sobre o assunto.

Se você se olhar no espelho, em que condição se acharia?

Tente escrever, pintar, ou tente outra qualquer atividade que expresse bem o que sente. É enriquecedor. Canalize os impulsos para algum autobenefício.

Pronto! Operada a catarse. Meu “eu” lírico psicanalizado agradece.

E para você que está lendo esta “sublimação”, acompanha a letra da música citada.

Ótima sublimação para você também.

Canta Ultraje a Rigor

Eu quero levar uma vida moderninha

Deixar minha menininha sair sozinha

Não ser machista e não bancar o possessivo

Ser mais seguro e não ser tão impulsivo

Mas eu me mordo de ciúme (Bis)

Meu bem me deixa sempre muito à vontade

Ela me diz que é muito bom ter liberdade

Que não há mal nenhum em ter outra amizade

E que brigar por isso é muita crueldade

Mas eu me mordo de ciúme (Bis)