Um dizer de olhares

Pensando sobre a brisa que suavemente toca as folhas das arvores, fazendo-as dançar uma fresca melodia de inspiração, tive a impressão de estar sozinha. Fechei-me no meu mundo não dando importância às pessoas e suas falácias incontroladas de vozes agudas e estridentes que estão ao meu lado. Intransponível a barreira que me criei, busquei nas letras aleatórias deste teclado as combinações que fossem mais perfeitas para dar inicio a esta reflexão, de modo fazê-la ser fiel ao verdadeiro sentimento de amparo que sinto ao debruçar-me diante da busca por palavras. O simples balançar das folhas das arvores do estacionamento, que enxergo superficialmente pela vista da janela, me conectou aos meus companheiros diários de conversas internas que me auxiliam a todo tempo a tomar as decisões certas.

Em alguns instantes eu perco o contato com eles, o que me faz parar de escrever e pensar, concentrar-me e retomar a conexão. Nesta hora, as palavras se formam com naturalidade, pois estão sendo guiadas pelo sentimento que eles me transmitem e fazem desabrochar por mim.

É difícil dar atenção aos anseios que sinto de mim mesma, com tantos outros anseios ansiosos por atenção, das varias pessoas cuja vida decidem compartilhar comigo. Muitas vezes são o foco de minha preocupação e o foco da transmissão que decido realizar de todas as energias boas e de superação das quais necessitam. O que guardo se tornou tão profundo que muitas vezes nem eu mesma me dou conta do que faz parte de mim.

Tenho em vida alguns anjos com os quais compartilho pequenas passagens de alegria e tristeza, para que eu não me sinta tão sozinha e perdida dentro deste mar. Estes anjos me acolhem, me protegem e me fazem ter certeza de que cada queda será recompensada com um segurar de mãos e um “levante”. Anjos de carne, osso, sentimentos, pesares e amores. Anjos de olhos brilhantes e conquistadores que, como eu, às vezes abrem mão de seus tormentos para ajudar a combater os daqueles que estão sob seu zelo.

Nenhuma gratidão seria suficiente para expressar o verdadeiro significado que suas palavras reconfortantes produzem em meu íntimo. Nenhum mestre inventou palavra que pudesse representar este sentimento verdadeiro e sublime de acolhimento. É uma forma de amor ao próximo que ultrapassa os limites cordiais de um “obrigado”. Desta forma, não me preocupo em pronunciar palavras de agradecimento, pois sorrisos nem sempre são sinceros, mas o olhar é translúcido e reflete a cor das intenções da alma.