FESTA DE ÍNDIO.
Um convite sempre é uma boa coisa, pelo menos é o que subentende. Mas o que dizer de um convite para ir a uma festa onde não se conhece o ambiente, tampouco os convidados. O anfitrião? Não faço idéia de quem seja, mas convite é convite, e não nos custa muito descortinar o palco da imaginação em busca de um tema para um monólogo descontraído.
A chegada foi trivial, tudo parecia correr tranqüilamente, porém ao palmilhar aquele local, percebemos que muitas surpresas e descobertas nos aguardavam.
Um cheiro de verde impregnava o ambiente. Em meio a árvores, flores, riachos, cipós, lá estava eu, quem diria, em uma festa na floresta.Uma estranha indagação tomou conta do meu pensamento: quem daria uma festa em meio a uma floresta? Só se for... Não é possível. Índios? Lá estava eu, sim senhor, em meio a nativos e brancos que se uniram para uma festividade tribal.
Tudo ali me parecia novo. Na entrada da aldeia muitos índios nos aguardavam. Com as suas pinturas de cores berrantes e seus cocares que, de tão formosos lhes conferia um ar de poderio sobre humano. À minha direita havia uma grande oca, ao seu redor e à minha esquerda algumas pequenas cabanas de sapê, como se fosse uma galinha flanqueada por seus pintainhos.
Uma fogueira ao centro da aldeia iluminava as sombras noturnas que pareciam bailar ao som das flautas e tambores indígenas. Gritos, sons guturais, ruídos da floresta, tudo isto se misturava como em uma sinfonia. Tudo parecia harmonioso, como se aquele ambiente e aquelas personagens, formassem uma grande orquestra a tanger a 5º sinfonia de Bethoven ao revés.
Andei um pouco mais e vi um indivíduo que, ao julgar pela sua forma de trajar, parecia o chefe, ou melhor, o anfitrião. O seu cocar era o maior de todos e em suas mãos empunhava uma clave, à semelhança de um monarca que tem o cetro de ouro à sua destra.
A alegria estava estampada em cada rosto. Confesso que tive uma pontinha de inveja (no melhor sentido da palavra), pois apesar de parecer difícil a vida ali, eles gozavam de uma espontaneidade com prerrogativas de inocência, devido às qualidades individuais e coletivas daqueles indivíduos, que culminavam em uma satisfação inefável que prontamente era expressa pelos largos sorrisos estampados em suas faces.
O dia do índio é com certeza um bom motivo para se dar uma festa, haja vista, que em tempos remotos “todo dia era dia de índio, mas agora ele só tem o dia 19 de Abril”.
Bem, críticas à parte, a festa caminhava a passos largos para o seu desfecho, mas como toda festa que se preze tem que ter comes e bebes, que venham as iguarias. Foi-me oferecido algo como um bolinho bem parecido com um croquete (bem rústico é claro), todavia tinha gosto de toucinho cru. O estomago rejeitara, mas convidado não desfeiteia o anfitrião. Em um esforço sobre humano, consegui engolir o tal bolinho, que mais parecia um aguilhão a dilacerar o meu esôfago. Em meio a náuseas e arrependimento, me esforcei por parecer o mais natural possível, mas não tive coragem de perguntar o que era aquilo, pois temi a resposta.
Passado o momento gastronômico, se é que posso chamá-lo assim, veio o momento da despedida. Uma estranha sensação de perda se apoderava de mim. Já havia me familiarizado com aquele ambiente, mas como diz o velho adágio popular: “cada macaco no seu galho”.
Depois das despedidas cabíveis, pé na estrada. Saudade era a única coisa que me vinha à alma. Sim, nem bem partira e já estava sentindo saudades daquele lugar.
Uma vez, em minha casa, tive a nítida impressão de que tudo não passara de um sonho. Bem, não interessa descobrir isto agora. Se sonho ou realidade não sei, o mais importante é que “emoções eu vivi” já dizia a canção. De uma coisa eu estou bem certo, um homem ao sabor dos seus pensamentos é capaz de alçar vôos mais altos que um condor em toda a sua força.