SOBRE PESOS, MEDIDAS E SAÍDAS -ROBERTA LESSA
Se o acaso existir, desisto da ideia do resistir .
A caravana continua a passar,
Os cães continuam a ladrar,
Os pães por sovar.
Se o acaso existir, resisto da ideias do persistir.
O circo continua armado,
A banda da janela ainda se vê,
Carolinas a cegar-se.
Se o acaso existir, persisto a ideia do contribuir
O sorriso continua amarelo,
O choro continua uivante,
pés desnudos caminham,
Se o acaso existir, contribuo na ideia do exigir
O sol continua brilhando,
O cosmo continua pulsando,
Terra em chamas arde.
Se o acaso existir, exijo na ideias do reagir
O homem continua podendo,
O clero continua fazendo,
Chuva leva cicatrizes.
Se o acaso existir, reajo na ideia do retribuir.
O sorriso continua amarelo,
O choro continua uivante,
pés desnudos caminham.
Se o acaso existir, retribuo a ideia do desistir.
O maestro continua regendo,
O coro continua consonantes,
músicos desafinam noites.
SE RESISTO é por que não mais me basta soneto e coração pra mim.
SE PERSISTO é por que não mais me sobra coração e sentido pra mim,
SE CONTRIBUO é por que não mais me resta sentido e som pra mim,
SE EXIJO é por que não mais me sobra som e voz pra mim,
SE REAJO é por que não mais me cala voz e espanto pra mim,
SE RETRIBUO é por que não mais me sacia espanto e chama pra mim,
SE DESISTO é por que não mais me fala chama e soneto pra mim.
(*) - Dedico essas palavras às noites escuras, à procuras que não mais cessam, ás tormentas que me movem e guiam. Dedico essas palavras aos olhos claros que há tanto tecem em mim esperanças, aos olhos escuros que rubram-me os desejos, aos sem olhos que jamais me verão inteira e aos que olham e pensam ver, mas que ainda cegos estão.