Conversa de mim mesma

Noite? Não. Acho que ainda está claro demais pra isso. Consigo ver a luz fraca e alaranjada dos últimos raios de sol do dia, que tentam com todo seu brilho e força ultrapassar as nuvens rosadas que pairam no céu. Em vão. A lua logo chegará em toda sua imensidão e majestade

extinguindo por completo a força de vontade do sol de permanecer em seu trono diurno.

Sento. A poltrona confortável diante da grande parede de vidro do 7º andar, me da condição de olhar mais uma vez para o céu, porém não muito me dou conta de que o azul já tomou o lugar do rosa. A xícara de café à minha frente parece, de fato, inalcançável. Talvez esteja ludibriado por meus próprios pensamentos, distante mim. Ou talvez o simples fato de ter deixado meus óculos na escrivaninha do cômodo ao lado tenha me deixado com a visão embaraçada. Difícil dizer, cheguei ao ponto de deixar que meus pensamentos se tornem tão reais quanto minha visão e que minha visão seja tão absurda quanto meus pensamentos.

Seria isso obra da loucura? Não, sou novo demais para ser pego pelas armadilhas da mente. Acho que estou mesmo adentrando em outro universo. Novo, inexplorado, mágico. Fruto do meu subconsciente que agora sinto manifestar no meu consciente. Droga, não consigo definir.

Esfrego os olhos, a visão ainda continua turva, porem, vejo com perfeição a fumaça se esvaindo sobre a xícara. Parece formar imagens. Agora percebo meu transe. Estive neste estado todo o tempo. A luz que eu pensei ser de fim de tarde não está mais à minha frente.

Pela grande janela de vidro vejo as luzes acesas da cidade de Veneza, de onde eu não saí. Olho pro relógio de bolso guardado em minha calça. 00: 47 . Onde estive este tempo todo? Não sei dizer ao certo. Talvez dentro de mim mesmo. Percebo que o café está frio. Tanto quanto eu.