A origem do pensar
Acordamos em nossa casa, em nossa cama, tudo está no seu devido lugar. As coisas da casa são as coisas conhecidas de sempre, e nos preparamos para ir à escola, ao trabalho ou para prosseguir nosso cotidiano. Os problemas enfrentados são quase sempre os mesmos, a linguagem usada é a mesma, com a inclusão de uma ou outra palavra nova. O transito segue seu fluxo com engarrafamentos, barbeiragens e pequenas alegrias (como encontrar um bom lugar para estacionar). Encontramos nossos amigos e familiares, contamos piadas, brigamos e nos divertimos. Tudo acontece conforme previsto. De certa forma, essa vida previsível é um conforto que nos agrada. De repente surge um evento inesperado, um acidente trágico, um pássaro que pousa em nossa janela, um beijo roubado, um garoto na rua lhe implora: “estou com fome, me ajude”. Um espanto assombroso toma conta de nós, mas não de todos, apenas daqueles que levam consigo um incômodo misterioso. No espanto, nasce o filósofo.
Espantados, passamos a questionar. Por que isso é assim e não de outra forma? Por que essa flor nasce e morre tão rapidamente? Por que ninguém ajuda esse garoto? O que é a morte? E o que é viver? O que é amar? Aquele que se espanta muitas vezes fica assombrado com algo que, para as outras pessoas, é absolutamente normal. Isso é o filósofo: aquele que vê no óbvio algo incrível. Quando ele consegue dar voz ao seu espanto, as pessoas se surpreendem. Se é algo que fere gravemente as verdades estabelecidas, então o filósofo é chamado de louco ou condenado à morte como Sócrates ou Giordano Bruno. Uma vez que o espanto toma conta de nós, todas as demais “coisas importantes” de nossa vida tornam-se insignificantes ou assumem um significado mais profundo.