Uma dose de ricina, por favor...
Uma dose de ricina, por favor
,Uma morte lenta.
,Onde eu possa saborear os últimos instantes de uma vida sem graça e vazia.
,Onde eu sinta o veneno se espalhando devagar pelas minhas veias, entorpecendo meus sentidos.
,E eu vislumbre as cenas embaçadas e os vultos tremulantes.
,Os espasmos dos meus orgãos internos sendo travados pela intoxicação e meu cérebro já não divisa o real e a ilusão.
,A pressão de repente parece uma bigorna de uma tonelada esmagando minhas têmporas.
,Busco o ar, mas não o tenho. A cada respiração sinto milhões de giletes rasgando minha traquéia.
,Meus olhos voltam-se para dentro e eu vejo meus demônios ali presos. E eles riem de mim. Comemoram minha partida.
,A morte, amarga, taciturna, aproxima-se e me olha.
,Vejo seus olhos negros vazados e o levantar da foice manchada de sangue.
,Ouço vozes distantes, berros, uivos, sibilos.
,Alguém chama o meu nome.
,O último tremor.
,O último suspiro.
,Ela curva-se sobre mim e me arrebata a alma.
,Em segundos, estarei no inferno.