Pouco Antes da Morte
Pouco antes da morte...
Já não há mais dor.
Toda mente é sofrimento
Impregnado de vícios.
Pouco antes da morte...
Até a solidão fica sozinha
Não há mais a companhia
Da morimbunda mente.
Pouco antes da morte...
Sê espaço, sê vazio
Só percorre-sê o rio
Na certeza do fim salgado.
Pouco antes da morte...
Não há delta, não há estuário
Não há mestre ou discípulo
Sê só fim solitário.
Pouco antes da morte...
O sofrimento é só pelos outros
O fim atrasa, chegando aos poucos
O sal corre do rosto em fantasia.
Pouco antes da morte...
O sangue ferve inflamando
O artífice não está chorando
Só fazendo seu papel.
Pouco antes da morte
Já não há nenhum carinho
As paralelas de certos caminhos
Não se cruzaram de medo
E pouco antes da morte...
Não há nem houve poesia.
Quem tem fé, de ver acredita
Que ainda é permitido sorrir.