Vermelho (de raiva, de vergonha...)

Falar de política não me parece uma forma boa de se começar assuntos, tampouco de conduzí-los. Amizades são ameaçadas por assuntos assim. Embora possam discordar, política é um assunto complicadíssimo. Nosso país, como eu "ouvi" isso e me pareceu uma opinião bastante inteligente, jamais conheceu um partido ou políticos que realmente se importassem com os rumos da nação, do povo. Sempre se preocuparam primeira, segunda, terceira e ultimamente com seus próprios interesses. O Brasil amarga uma ingrata experiência, com ou sem ditadura, desde 1500. Essa infeliz sucessão de tragédias eleitorais não tem nem terá, tão cedo, uma solução. O jeito é investir na discussão sobre o presente, sim, mas de modo a não nos perdermos em partidos -- pois não: se são "partidos" é porque se partiram, se estilhaçaram. E de cacos já estamos cheios. Não cabem mais debaixo do tapete. A falsa faxina não comporta mais esse espaço a que tanto lhe dedicamos. A cor -- se vermelha de vergonha, se azul de tristeza, se verde de esperança, se amarela de atenção -- pouco importa. Temos um compromisso e um dever moral de mudarmos os rumos agora e sempre. As pessoas se vendem. Os graus de estudo não fazem de ninguém melhor. Apenas atestam, com um "deproma" ou Diploma, que fulano(a) está autorizado a falar, publicamente, sobre determinados assuntos, com a devida "licença poética", independente de dizer asneiras ou proferir discursos demagógicos, retóricos. Um apelo à autoridade (ou "otoridade", conforme o meio em que se proferem tais discursos), "pra mode" dizer "fulano tem alto grau de estudo, logo, ele é autoridade em qualquer área." Eu não vou citar nomes para não ofender a ninguém que já levanta qualquer bandeirola monocromática em nome de -- ARGH! -- o que se convencionou, num hábito cretino, acéfalo, chamar de "revolução". (Adendo ao texto original: o que precisamos, de fato, dentre outras coisas, é de uma "revoLIÇÃO", ou "seje", de uma lição de mudanças drásticas, a começar pela reeducação do povo, a começar pela sala de aula.)

Em tempo: o gigante jamais acordou. No máximo bocejou, virou de ladinho e voltou a roncar.

E tanta molecada na rua gritando "Fora i$$o", "Fora aquilo" etc. 2013 só pode entrar para os anais (anais? Que papo mais escatológico esse) da História do Brasil como um ano pré-marcado por dois algarismos bem pouco queridos aos supersticiosos. O número do azar? Também. Se bem que, se vista por outro lado, a questão é bem outra: o azar não tem um número definido -- não para quem não se baseia em superstições.

Findo este meu texto com mais uma daquelas minhas enigmáticas (por demasiado subjetivas que o são) passagens (desta vez marcada pelo discurso de outrem; neste caso, Mallarmé): "um lance de dados jamais abolirá o acaso." "Acaso", neste caso (ou "neste caos") se escreve "hazard" em francês. E a pronúncia, se não m'engano, é idêntica ao nosso "azar". Creiam-me: não tive falta de sorte em fazer isso. Acho que a comparação até que veio bem a calhar...