O ABARCAR TUDO
O abarcar tudo
Não podemos abarcar tudo num relancear e muitas coisas se sucedem numa fugacidade espantosa. Se piscarmos os olhos o que era já deixou de ser. E muitas outras coisas tomaram o seu lugar.
O que é essencial pode ter uma forma inusitada e não ser tão trivial e simples quanto parece. Não perceptível de supetão. E a premência, tão aludida e enaltecida nos dias atuais, talvez não estreite em seu abraço nem uma ínfima fração do que realmente é fundamental e esse ficará no olvido, na dormência da alma, esperando para eclodir quando essa despertar do seu torpor, dessa sua indiferença ou inércia moral para o que realmente é digno de ser considerado.
Não façamos somente o que a contemporaneidade apregoa. Muitas coisas de antanho ainda são essenciais. Muitas coisas atuais serão fugazes, perpassarão a alma, mas não se imiscuirão em sua essência, não farão parte dela, como imanências constitutivas. Raras as propostas novas serão dignas do espírito humano, mas as que forem, naturalmente, terão o seu lugar na história e muito mais, ficarão indeléveis, imanentes no âmago das almas sensíveis, por um tempo imponderável. E farão a diferença, pois nelas imbuído estará o diferencial. E esse diferencial será ativo, assim como na atividade constante e ininterrupta deve permanecer o espírito. Mas numa atividade focada e nunca dispersiva. Lúcida e não inebriada. Proativa, porém sem ser estouvada, num arroubo estabanado.
Ser simples, não simplista e muito menos simplório. Mas não premeditando a simplicidade. Tudo de maneira natural. Num processo natural. Não é se utilizando de palavras coloquiais, numa linguagem cotidiana e despojada que seremos qualificados de simples e nem é utilizando uma linguagem erudita que seremos qualificados de pedantes. Talvez nem o que acreditamos ser seremos, nem como os outros nos vêem assim também seremos. Talvez o que somos seja mais complexo do que tudo o que imaginamos ser e também mais do que tudo o que o mundo acredita que somos.
Talvez não devêssemos dar uma superlativa importância ao que é feito, em detrimento do que está por traz do que é feito. Talvez o que esteja por traz seja mais relevante. E o que está na berlinda seja só aparência.
Não façamos pose para a ostentação. Para que empavonar-se? A vaidade só olha para si mesma e perdemos um tempo muito precioso nesse alardeio. E enquanto nos ensimesmamos na vã jactância o mundo já tomou outra forma e ao despertarmos já não mais o conheceremos e muito menos o nosso papel, a parte que nos caberá desempenhar no teatro da vida, que é muito mais complexo e muito mais relevante do que qualquer homenagem ou admiração fugaz.
Valdecir de Oliveira Anselmo
29/11/2014