Como num romance
Sim, eu tenho medo quando voltar àquele porto.
E lembrar de quando você chegou lá chorando, o sol estava se pondo só para aquela cena.
E você estava com aquela mala grande, enorme,
que coube pouco de tudo que você gostaria de trazer.
Você se despediu do seu pai e parentes.
Aquilo tudo era loucura.
Todo mundo ficou olhando para a gente.
Você muito alto, e eu muito pequena te abraçando.
Você tendo que se abaixar sempre para me abraçar
e inclinar a cabeça bem para baixo.
Tem um ano e nove meses que eu te odeio profundamente.
Mas hoje, não sei por que, tocando o meu rosto eu senti as suas mãos.
E estou espantada, colocando a mão da boca, e chorando.
Pois, finalmente, veio uma lembrança boa de você.
O drama todo foi real, a tragédia ainda mais.
Mas houve amor.
E eu lembro da gente falando um pro outro que tem pessoas
que morrem e nunca experimentaram o que a gente vivia:
Amor profundo.