Sobre o senhor Romeu
Tempos atrás encarnei um personagem chamado Romeu e contei sua história como se eu mesmo a tivesse vivido. Escrever não é tarefa fácil. As vezes uma ideia aparece e fica cutucando. Me diz: NÃO PARAREI DE TE PERTURBAR ATÉ QUE VOCÊ ME EXTERIORIZE EM UM TEXTO. E eu fico relutante, afinal de contas o receio de escrever coisas que podem não soar muito bem sempre vem apropriar-se do raciocínio.
Pois bem! Direi mais algumas palavras sobre as pessoas idosas, a quem admiro muito. Observo-as a todo instante, afinal convivo com elas. É muito comum vê-las conversar sobre os tempos modernos, lastimar nossa era. "No meu tempo eles ainda respeitavam os mais velhos. Quando entro num ônibus, do nada todos fingem que estão dormindo, enquanto põem de propósito seus headphones e seguem viagem. Vejo as pessoas indo e vindo nas ruas da vida e penso: até quando esse monte de zumbis?"
É claro que os idosos se diferenciam em classes sociais. Enquanto nos ricos predomina o tédio, nos mais pobres sempre há alguma atividade, Eles costumam capinar o quintal, varrer o "terreiro" ou quinta, ou então jogar xadrez ou damas com outros coetâneos em praças públicas.
É deveras fascinante prestar atenção nos olhos e nas feições que revelam. Se tem muitas rugas, uma vida intensa, Se não há nenhuma, a cirurgia plástica revela vaidade e sinal de que o ancião não aprendeu muitas coisas importantes.
Olhe os olhos deles: olhos profundamente penetrantes. Os olhos dos idosos e das crianças revelam dois aspectos da Divindade: santidade e sabedoria.
Portanto, não olhai os velhos como parte do gado que agora não tem mais utilidade. Olhai antes seus aprendizados. Prestai atenção nos seus passos. São exímios professores.
Talvez o meu velho Romeu esteja andando por aí, como uma pessoa de carne e osso. Eu gostaria de sê-lo, mas infelizmente ele estará para sempre apenas na minha imaginação. Rezo para que ele exista.
Gostaria de criar um outro personagem para fazer companhia ao velho Romeu. Quem sabe não crio. Isso leva muito tempo.