MÁ GESTAÇÃO

Sinto-me brutalmente penetrada todas aas manhãs,

um misto de prazer, dor e desespero toma meu corpo a cada despertar.

Incapaz, vejo-me invadida, fecundada e fadada a carregar no útero

o fruto da minha inércia.

Ao percorrer do dia, o silêncio alimenta o feto,

a angústia e o pesar o suprem,

e ele desenvolve em minutos a me ferir por dentro.

No fim do dia, mal posso suportar minha cria de desculpas e mentiras.

Prestes a parir novamente, faço a prece de sempre no quarto escuro:

Que amanhã seja diferente!

Estoura a bolsa, o útero e as entranhas. Sangue pra todo lado.

Nasce morto outro filho das minhas escolhas.

Adormeço em meio ao caos.

Daiane Alves
Enviado por Daiane Alves em 28/11/2014
Código do texto: T5051487
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