MÁ GESTAÇÃO
Sinto-me brutalmente penetrada todas aas manhãs,
um misto de prazer, dor e desespero toma meu corpo a cada despertar.
Incapaz, vejo-me invadida, fecundada e fadada a carregar no útero
o fruto da minha inércia.
Ao percorrer do dia, o silêncio alimenta o feto,
a angústia e o pesar o suprem,
e ele desenvolve em minutos a me ferir por dentro.
No fim do dia, mal posso suportar minha cria de desculpas e mentiras.
Prestes a parir novamente, faço a prece de sempre no quarto escuro:
Que amanhã seja diferente!
Estoura a bolsa, o útero e as entranhas. Sangue pra todo lado.
Nasce morto outro filho das minhas escolhas.
Adormeço em meio ao caos.