Tem alguém aí?

Tem alguém aí? Responda! Eu preciso tanto falar. Preciso contar tudo o que acontece comigo. Vamos, dê algum sinal! Juro que serei breve. Falarei tudo que me é urgente, tudo que está contido e empoeirado. Por favor, responda! Não tomarei muito seu tempo. É que essa vida anda bruta demais, chula demais. Precisamos de desabafos e aditivos. Precisamos ganhar dinheiro, sair pra passear. Andamos tão apressados, esse gosto de gasolina. Ei? Você ainda esta aí? Diga alguma coisa! São tantas noites mal dormidas, esses cigarros entupindo os cinzeiros. Nossas velhas vidas, nossas casas vazias, a mesma mesa posta. Vamos! Não é possível que fique calado tanto tempo! Nossas vidinhas medíocres, essas camas cheirando a mofo, louças sujas na cozinha, esse amor dando bolor. Esse existir sem sentido. Não vai falar nada? Essa sua estúpida vontade de ter, sempre ter, alguma coisa nova, algum objeto novo. Estar na moda, trepar, gozar, mastigar e cuspir fora. Vai ficar fazendo charme, né? Esse excesso de querer, de preencher o inevitável vazio, de precisar todo dia ir ao açougue, ao supermercado, à padaria. Essa vontade de almoçar em lugares bonitos, de comidas bem fartas. De se achar importante. Vai, fique calado mesmo! Engula toda essa fumaça dos carros, se empanturre ao máximo de toda essa porcaria. Afinal, a vida é essa pirraça, não é mesmo? Pra você não há nada demais. Meus créditos estão no fim. Já que vai bancar o calado, preciso desligar. Mas não diga que não avisei. Você não quis se manifestar. Nos vemos por aí. Até logo!

Leonardo Schneider
Enviado por Leonardo Schneider em 28/11/2014
Código do texto: T5051358
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.