Soluções para uma vida breve
Escrevia forte no papel. Sua letra era arqueada, o que significava um gênio forte, agressivo e cheio de si. Tinha vários dias de argumentação, e alguns poucos dias de se calar e tentar se responder. Era difícil agradar e passou a vida se perguntando o porquê disso.
Durante o ano via filmes e buscava respostas, mas não vinham. Lia livros e respondia o que não se perguntava. Montava esquemas, mesmo sabendo que para nada serviam. Vivia tentando se explicar.
Um dia se cansou. Parou de questionar. E a vida parou também. Porque ela não sabia que era movida por suas perguntas e não por suas respostas. Rasgou-as. O mundo foi ficando cinza, o dia começava às onze e terminava às seis da manhã. Não olhava mais nos olhos, as vozes ficaram distantes e depois ficaram mudas. A morte das horas veio com a morte do seu eu.
Não levantava da cama. Era o nascimento do silêncio. Depois ele acumulou festas de aniversário.
A luz que batia na janela gritava com uma voz quase divina: "Escreva!". Ainda assim relutava com sua mente e brigava com a voz. Pensar doía, quase rachara a cabeça em determinados momentos. Mas faltava algo em sua vida. Faltava o brilho das tardes de inverno. Escrever tinha um cheiro bom e indescritível, um cheiro de coisa nova.
Então ela voltou a ser quem era e a querer ser aquilo que sempre fora. Sem tirar nem pôr. Sem agradar e feliz por isso. A diferença estava na busca. Dessa vez, buscava cada vez mais perguntas e menos respostas, embora houvesse a ansiedade em respondê-las. E escrevia cada vez mais forte no papel, algumas vezes para rasgar as palavras. Elas tinham uma força que vinha de dentro dela.