NO MEU VELÓRIO...

As pessoas comuns não gostam de pensar nem de falar sobre a morte. Na morte de um amigo ou parente, muitas pessoas se desesperam. Há quem afirme: “Parece que fulano (a) não tem coração. Ele/ela não derramou nem um pingo de lágrima”. Nessa afirmação, as pessoas transmitem a mensagem de que, na morte de um amigo ou parente, chorar é uma necessidade; demonstra tristeza. Quem não chora, para essas pessoas, não sente a morte do ente querido. Porém, é importante afirmar: muitas pessoas, mesmo não se desmanchando em lágrimas, sentem, também, a morte da pessoa querida. Cada pessoa é única e diferente das demais. Cada pessoa tem a própria maneira de manifestar seus sentimentos.

A Filosofia, durante toda a sua história, através de vários pensadores, refletiu sobre a morte. Afinal, a Filosofia não pode e não deve se recusar a pensar sobre esse fato existencial, visto que ela reflete sobre o todo. Tudo o que existe é objeto de reflexão filosófica.

Sócrates dizia que, se a morte é como uma noite em que se dorme profundamente e nada se sonha, então é uma grande vantagem, visto que, assim sendo, o decurso do tempo adormecido se manifesta como uma única noite. Entrementes, se a morte significa uma mudança de lugar para outro, estando certa a tradição de que lá se encontram todos os mortos, então não poderá haver melhor bem ao homem. Por isso, não há razão para temer a morte. Escrevi isso na minha monografia.

Epicuro afirmava que não devemos ter medo de morrer, porque a morte “não é nada”. Segundo ele, e é verdade, “quando nós estamos, a morte não está. Quando a morte está, nós não estamos”, ou seja, não é possível testemunhar a própria morte; só testemunhamos a morte dos outros, nunca a nossa.

Para Platão, a morte é a “separação entre a alma e o corpo”. Plotino afirmava: “Se a vida e a alma existem depois da morte, a morte é um bem para a alma, porque esta exerce melhor sua atividade sem o corpo. E, se com a morte, a alma passa a fazer parte da Alma Universal, que mal pode haver para ela?” Cícero, filósofo e orador romano, dizia que “filosofar é aprender a morrer”.

Mas não é apenas a Filosofia que se dedica a pensar a respeito da morte. As religiões e os mestres espirituais, principalmente, elaboraram e elaboram interpretações sobre esse fato inevitável. Já li em algum livro de espiritualidade, não sei em qual, esta afirmação: “É quando nascemos que começamos a morrer”. Osho, um dos grandes mestres espirituais do século XX, na obra “O Livro do Viver e do Morrer: celebre a vida e também a morte”, na página 90, deixou escrito: “A vida é só um instante entre dois nadas, só o voo de um pássaro entre dois estados de não-ser”. E mais: “A vida toda consiste no aprendizado sobre como morrer”. Esse mestre deixou escrito que não devemos considerar a morte como inimiga. Não se deve brigar contra a morte, porque essa briga é um absurdo. Ninguém poderá deixar de morrer. É o que ele afirma. E é verdade. Na página 92: “Se a morte é uma inimiga, lá no fundo a vida também é uma inimiga, pois ela”, a vida, “leva você à morte”. Sendo assim, devemos aceitar, com serenidade e sabedoria, a nossa morte e a morte de amigos e parentes. São Francisco de Assis usou a expressão “irmã morte”, para se referir a esse fato inevitável da vida.

Eu, portanto, desejo que, no meu velório, ninguém se desespere, ainda que eu não possa nem deva querer privar a manifestação particular de sentimento das pessoas. Cada ser humano tem a própria maneira de expressar seus sentimentos. Eu, porém, terei um admirável retorno ao pó se celebrarem a minha morte, que eu espero ser na minha velhice. A celebração será uma forma de celebrar a minha vida. Será que estou sendo egoísta? Em alguns lugares do mundo, a morte é celebrada.

Geralmente, as pessoas comuns não gostam de pensar sobre a vida. Somente quando alguém morre é que vão pensar a respeito da nossa curta existência neste mundo. Caso queiram; caso eu seja digno de ser celebrado, eu já deixo o repertório que poderá ser tocado no meu velório. Vejamos!

1. ZÉ RAMALHO não pode faltar. Eis as minhas músicas preferidas: 1. Aprendendo a vencer; 2. Companheira de alta luz; 3. A nave interior. Há, também, a música “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que é cantada por Zé Ramalho. Além dessas, os amigos poderão escolher outras do mesmo cantor e compositor.

2. MILTON NASCIMENTO não pode faltar. Eis a minha preferida: 1. Nos bailes da vida. Existe outra, que é a música “Quem sabe isso quer dizer amor”, de Márcio Borges e Lô Borges, mas cantada por Milton Nascimento.

3. RAUL SEIXAS é outro cantor e compositor fundamental; não pode faltar, caso aceitem fazer a celebração. As minhas canções preferidas são: 1. Carpinteiro do universo; 2. Ouro de tolo; 3. Medo da chuva; 4. Tente outra vez.

4. ROBERTA MIRANDA é outra predileta e indispensável. As canções preferidas: 1. Esperando você chegar; 2. Dói; 3. São tantas coisas; 4. Duas taças; 5. Vá com Deus; 6. Deixando a vida fluir; 7. Anel brilhante; 8. Estou só; 9. A vida é um carnaval.

5. CD FELICIDADES!: CANÇÕES PARA COMEMORAR, da Editora Musical Paulinas – COMEPE. Canções prediletas: 1. Vida, eu te quero (uma canção de Verônica Firmino e Nanda – Solo: Zé Luiz); 2. Plantando e colhendo (música e solo: Gambier). Obs.: Este CD é muito importante para mim.

6. PADRE ZEZINHO é outro essencial. Músicas queridas: 1. Um certo Galileu; 2. Orar como irmãos; 3. Canção ecumênica; 4. Irmãos separados; 5. Iguais; 6. Canção religiosa; 7. Onde houver dois ou três; 8. Faz de conta; 9. Santo Livro; 10. Aprenderemos; 11. Eu preciso de Deus; 12. Jesus é Luz; 13. Senhora e Rainha; 14. Brigar com Deus; 15. Águia pequena; 16. Deus conseguirá; 17. Oração por meus amigos; 18. Ilumina, ilumina; 19. Mãe de Deus.

Obs.: Eu tenho todas essas canções em casa.

Encerrando essas canções prediletas, eu indico a música “AQUARELA DO BRASIL”. Pode ser em qualquer voz profissional.

Caso queiram continuar a festa, a celebração da vida e da morte, a reflexão sobre a nossa existência, poderão tocar também:

1. JOSÉ AUGUSTO. Canções preferidas: 1. De que vale ter tudo na vida; 2. Eu quero apenas carinho; 3. Luzes da ribalta; 4. Fascinação; 5. Faz de conta. Obs.: Esta não é a mesma música de Padre Zezinho de mesmo nome. 6. Casinha branca; 7. O lutador.

2. SHAKIRA. Canção predileta: Addicted to you.

3. SANDRA DE SÁ/PARTICIPAÇÃO ESPECIAL: GABRIEL, O PENSADOR. Música: Dançando com a vida.

4. GABRIEL, O PENSADOR. Músicas prediletas: 1. Racismo é burrice; 2. Se liga aí; 3. Até quando.

5. TITÃS. Músicas preferidas: 1. O mundo é bão, Sebastião! 2. Epitáfio; 3. Mesmo sozinho.

6. LEGIÃO URBANA. Música predileta: Vento no litoral.

7. RPM. Canções preferidas: 1. Rádio pirata; 2. Revoluções por minuto.

8. MILIONÁRIO E JOSÉ RICO. Canções preferidas: 1. Sonhei com você; 2. Lembrança; 3. Praia deserta.

9. CHRYSTIAN E RALF. Músicas fundamentais: 1. Marcas; 2. Brigas; 3. Minha Gioconda (Mia Gioconda); 4. Minha estrela é você; 5. Sonho de criança; 6. Charly.

NOTA: Se alguém sentir que eu mereço a homenagem, poderá declamar o meu acróstico DOMINGOS IVAN BARBOSA (EU).

Por enquanto, eu continuo vivendo e aprendendo com a vida, por quem eu declaro ser um homem verdadeiramente apaixonado.

Obs.: Eu não estou brincando, nem sendo irônico. O conteúdo deste texto é verdadeiro e sincero. A morte não deve nos assustar. Eu sei que é muito difícil se preparar para morrer. Como fazer bem isso? Vivendo bem. Amando a vida. Dignificando a vida. Respeitando a vida. Abraçando o bem que a vida nos dá todos os dias.

Se eu viver sabiamente a minha vida, eu me prepararei dignamente para a morte.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 23/11/2014
Reeditado em 23/08/2015
Código do texto: T5045885
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