Tanworth-in-Arden
Quando passo pelas ruas verdes que nunca vi e respiro o perfume das calçadas molhadas onde nunca andei me vem à lembrança que jamais tive a passagem das horas de profunda angústia de outono. E quando a tua música reverbera, entrando fatidicamente em meus ouvidos cansados toda a melancolia que deveria ser minha, aí passeio pelas ruas da tua infância.
Quantas vezes desaparecestes na neblina sem que ninguém pudesse ver o teu rosto, nem tuas veias? Quantas vezes olhastes pela janela do teu carro e sentistes um misto de pena e distanciamento profundo de todas as faces entrecortadas que vistes? Pelo para-brisas não se vê as almas, se vê as faces entrecortadas.
Onde foi que você deixou aquele amor perdido, amigo? De que tão profundas cavernas em ti você retirou tanta dor? E eu as sinto. Tuas dores são as minhas dores. O teu pesar profundo, o teu outono, as tuas folhas amarelas, o dia que passou e você não percebeu, a verdade pendurada bem à tua frente agora também encaro. Tudo isto, todas estas coisas são minhas. E me pego infindáveis vezes pensando se terei o mesmo destino... terei? Quero ter.
Nunca pude compreender totalmente. Nem compreendo agora, nem nunca compreenderei. Apenas sinto o que posso sentir, o que foi deixado transparecer e o que não foi. Mas agora que a dor aperta meu coração-emoção-razão-sentimento como a pressão de todos os oceanos, sinto que os acordes dançam com maior liberdade em mim.
Meu outono, minha dor, minha infância, meus sonhos não realizados, você morto cantando para mim. Uma estação se passou, amigo, e ainda dói. Sinto que apesar das décadas que nos separam, tu sentistes o que sinto agora...