Analógicas

Uma fresta na penumbra reluz um azul cortante. Seja bem-vindo estranho. O barulho vindo do asfalto misturado ao canto dos pássaros e o despertar daquele que vive de peito estufado são totalmente uníssonos. Eu gosto.

Perdi olhares muitas vezes: em pessoas, situações, paisagens, paixões e desilusões. No quadro de cores vivas, no centro da minha parede salmão, tem um pouco da minha falta de ar. É uma combinação cruzada ao contraste do sofá vermelho terra em uma diagonal encaixada, apesar de todo meu desencaixe. Um sopro, mesmo fervendo, me gela também. Nesses tempos é um desaviso esquentar. Um desaviso enquadrar.

Sinto-me clássica. Ando no revés. Um pouco trigonométrica talvez. Vejo tudo retangular, produzido, matemático. Vejo a reciprocidade num PB. O polaroid virou slide, supra "curvilíneo" nos smartphones. Torço milimetricamente para reconhecer um pouco de reação no outro, mas, vivemos em um roteiro. Esticar as pálpebras em devassa é meio enterro. Nada cabe num papel tão insosso. Sem tesão. Era sem paleta. Bata asa, ora quebrada, mas bata e além de livre, quem sabe feliz.

Liz Dias
Enviado por Liz Dias em 21/11/2014
Reeditado em 29/04/2018
Código do texto: T5043587
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