" O verdadeiro perdão..."

Sobre religião, perdão e valores, vou explanar uma historinha, caros amigos, que espero render boas reflexões:

" - Eis que certa vez existia um homem, e este homem se fez com muito esforço, e se tornou um belo soldado da lei!

O soldado era um prodígio... Sim, prodígio! Sabe, daqueles que você fala, ele entende; você erra, ele corrige; você cai, ele te acuda... Um soldado sem igual! Sabia bem ele, inclusive, que sua perícia com armas de longo alcance, sobretudo, o destacavam de todos os demais - amava tanto o que fazia que nem se sentia apenas um "soldado".

Era um homem profissionalmente realizado, e seu amor por sua profissão, mesmo sendo ela carregada de títulos, o fazia carregar todo um mundo pesado nas costas: o mundo dos "erros" e "acertos", e toda esta dualidade.

Ah, esqueci de mencionar que fora da corporação também era um homem muito bem discernido! Ah sim, isto com certeza! O rapaz era sobretudo humilde, mas não daqueles que se forçam para ser, e sim daqueles que simplesmente são...

Muitas vezes um homem estuda tanto que, quando vê, percebe que não sabe de nada, e que não é nada demais perante à vastidão que o mundo se torna quando se aumentam suas óticas... Sim, um vasto sistema de pensamentos e sentimentos que, em certa instância, os estudiosos como ele notam que nu vive-se melhor - sem mascaras, títulos, roupas... Sua humildade vinha daí, certamente!

Notavelmente seria promovido, sabia disto, e notavelmente todo o seu mundo tenderia a estar cada vez mais dentro de seus braços...Estudioso, humilde, bondoso, absolutamente discernido, um bom e versátil homem (para não dizer soldado), e com amor pelo que faz... Se quer um exemplo de pessoa que doma os céus, una coisas que tornam alguém assim.

Pois bem, sabemos que a vida é justamente feita de momentos e momentos, momento à momento... O soldado acreditava nisto também, mas algo na vida sempre nos escapa, e em sua dança encantadora também esconde-se o desconhecido...

Os dias do soldado estavam ótimos, e se você conseguiu sentir o prazer de ser um homem livre, sem compromissos, e que almeja algo conseguindo com tudo aquilo que o fez ser o que é, sabe do que falo... Se não sabe, imagine! Amar fazer algo, ser notado, ser recompensado, ser bem querido, ser bem requerido, e considerado exemplo é algo que muita gente sonha no escuro do quarto antes de dormir...

Pois bem, eis que certa noite ocorreu algo "a mais", e esse "a mais" complicou-se... Tratava-se de um assalto a mão armada, que virou um sequestro a mão armada, que chamou um bilhão de viaturas da policia, jornais, e que requiriu um franco atirador...

Posicionado no topo do prédio então, o ainda jovem de 29 anos com tudo aquilo que o definia, tinha então em sua frente uma arma com uma luneta de alta precisão e um alvo... Ah, tão bom soldado que era! Apenas esperando uma ordem que preferia que não viesse... Mas, espere, não viesse?

E foi nesse pensamento que se pegou, e em seguida no "por que?"

A vida lhe passou aos olhos então...

Sim, a vida as vezes nos da um êxtase de emoções, e nos eleva à alturas, mas, muitas vezes, inconscientemente não notamos a face daquilo que almejamos e esperamos, principalmente quando estamos nestes êxtases - ou buscando-os com a mente fixa... Algo sempre passa despercebido, e de modo sinuoso...

Sempre tão versátil, audacioso, esperto, jamais passara na cabeça do soldado que, em sua frente, poderia ter um conhecido de juventude, daqueles que você nem sabe porque parou de falar, mas que te marcou - e certamente marcou. E mais, que este amigo que o tempo levou esteja com uma faca no pescoço de uma senhora de idade.

Sim, via-se literalmente entre todo o seu mundo profissional e intimo na espera de um sinal, e com uma arma de alta precisão apontada na cabeça do alvo. Queria não atirar nele, mas também não queria a velhinha morta, nem seu dever não sendo cumprido, porém era realista o suficiente para conhecer o que fazia à ponto de saber que aquilo tudo era praticamente impossível ali... Queria fugir.

Se atirasse seus conceitos de certo e errados mais íntimos, principalmente aqueles que discorda da lei e que luta para serem vistos seriam estraçalhados... E nem falo nada sobre profissão!

Agora, se não atirasse, seus conceitos sobre o valor da vida, sua humildade, seu passado, e várias outras coisas que seus estudos o revelavam também seriam estraçalhados... O que fazer?

"O que fazer? O que fazer? O que fazer?"

Sabia tanto, mas não sabia nada!

Não sabia porque seu amigo que não via a tempos estava daquele jeito, nem sobre a velhinha, nem sobre nada mais! Tudo era "por quê", e sua cabeça estava para explodir juntamente com seu sentimental - e sua sanidade logo depois.

Fatiava-se aos poucos, sentia o desprazer, o asco, e agonia de estar na pele de alguém que era um nada perante aquela situação, mas, ao mesmo tempo, era o ator que finalizava a peça...Sentia desespero de não saber responder as perguntas em sua cabeça, e de não conseguir pensar em nada que lhe salvasse daquilo...

Nada o acolhia, nem Deus, nem o futuro, nem uma promoção, nem os braços da mãe, e sabia que estava sozinho naquela. Um homem que, em sua vida toda planejou e fez algo perfeito, em frente a uma daquelas situações que JAMAIS pensaria precisar resolver usando-se, justamente, de si.

Estava ali, na frente da arma, vendo tudo, mas sua cabeça não, pois estava tão afundada nos pilares daquele homem que seus sentidos apenas faziam o que precisavam fazer - uma bela imersão... E bom, ele fez.

- "Senhor, perdão..."

Talvez ele tenha sido o único que até hoje eu tenha visto pedir um perdão verdadeiro, e que realmente tenha entendido o que é se ver impotente, sem nada, perante a tudo aquilo que lhe faz sentir aquilo que mais lhe machuca... Ainda acredito que até hoje ele tenha medo de sí, e incertezas sobre seu futuro...

Aquele perdão certamente não foi para alguma divindade, e sim para alguma coisa que ele, em seu estado mais profundo, desejava que poderia ouvir e dizer "tudo bem, não é bem assim".... Algo que muitas pessoas chamam de Deus, mas que nem sempre é bem assim...

Ele não é religioso, mas nunca mais quis falar algo sobre a religião de alguém; é ainda mais humilde e sábio, porém, até hoje nunca mais voltou a ser o que era... Uma ferida ficou ali, naquele dia, naquele prédio.

Um homem nunca sabe seu futuro..."

AyA
Enviado por AyA em 18/11/2014
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