Linha e agulha
Para escrever sobre linha e agulha tem que se propor a conhecer delicadamente esse universo, seria o universo das nossas avós? o som do ranger dos pedais das antigas máquinas que soavam como embalo de tardes de julho a brincar e tê-las como fundo musical ..quase cantiga, ou simplesmente ter visto uma bordadeira em seu projeto incessante de traçar e cobrar pontos quase que num interminável êxtase de concentração e carinho a cada enlaçado.
Creio que se deve para escrever de agulha e linha, ter memórias e cheiros de costura, de 100% algodão, mas principalmente se engajar nesse ofício, atrever se a por uma junto a outra, linha no orifício da agulha, e por fim nó, ir além... traçar pontos largos, estreitos, simétricos ou não, e assim pisa no motor, ajeita o tecido, levanta a sapatilha, calma a linha da bobina acabou, recoloca e continua, dá sequencia a esse manejo, ajeita aqui e ali, corta excesso de tecido, de linha, e logo já está pronta uma peça.
Um mistura de sentimentos se unem nesse momento, orgulho, esmero, carinho, cuidado. E passa as mãos e olha ponto a ponto,
obra acabada ? não, ainda falta o acabamento a linha e agulha, agora somos só nós quatro, a artesã, linha e agulha, tecido como o veio principal dessa odisséia, onde realizo ali o prazer de dar o toque final e mais uma vez vamos nos por a enlaçar, eu como força motriz, a agulha no tecido e a linha travar a teia dessa união em pontos.