Emigrar (como todos pensam ser?)
Será que emigrar é assim tão fácil?
Vejamos: emigrar implica sair donde se vive há anos, desde que nascemos, onde crescemos e nos instruímos. Implica deixar em pausa ou cancelar planos que também nasceram connosco, deixar de socializar pessoalmente com a gente de sempre, mudar duramente de rotina, adaptar-se aos tempos de mudança, preparar-se para o desconhecido, deixar no nosso canto a família com quem sempre se viveu, a nossa casa, o nosso espaço, quem sabe talvez a liberdade de viver.
Sair para o exterior com um sorriso disfarçado de tristeza, com pensamentos de incerteza, e a cada passo que se dá fica um passo atrás. Ainda assim dizemos que “vai tudo correr bem”, quando queremos mesmo é deixar as lágrimas se manifestarem.
Procurar noutro ponto do planeta por aquilo que o nosso país deixou de oferecer (emprego) tem tanto de positivo como de negativo.
Uma vez a viver fora do regular, há que adaptar-se ao local, a “outra” sociedade, a outra rotina e forma de trabalho, a novas convivências, caras, personalidades, ao clima e línguas.
Haverá sempre alguém com 7 pedras na mão para te julgar, que tentará derrubar o que começas a construir, que te olhará de lado e repudiará olhos nos olhos. Haverá também o lado bom da adaptação. Procura por ele.
Os que passaram pelo mesmo, hoje, ontem ou há 20 anos atrás, ajudar-te-ão a alcançar o sucesso e a estabilidade, mas nunca a fazer sentir-te em casa.
Na sociedade do século XXI, são contados pelos dedos das mãos aqueles que te irão oferecer amabilidade, apoio incondicional ou apenas 1 minuto de conversa em prol do teu sucesso profissional no estrangeiro.
Emigrar é o jogo do elo mais fraco, onde quem fica estagnado nas memorias não sobreviverá.
Novos horários, novas relações, novos métodos laborais de aprendizagem, mais trabalho, menos tempo livre, mais e mais de ti, a cada dia que passa.
E sabes: todos vão falar que estás bem, que com o tempo que levas fora “enriqueces”, que uma vez só, estás livre e com domínio da tua vida.
Todos vão falar e falar, contar do “a” ao “z” sem a oportunidade de comprovar, opinar como senhores e donos da razão, quem sabe criticar pela tua opção... mas, não terão a oportunidade de estar contigo e ver com olhos de ver que não é fácil ser “estrangeiro”/emigrante, que te perdes no tempo com o trabalho e o cansaço e desgaste emocional será maior, como nunca. Dormirão pouco ou muito menos, “descansar” não consta no dicionário, só e apenas no teu vocabulário. A pausa será a tua melhor amiga.
Não é fácil estar num mundo oposto ao teu. E o tempo, para passar? Um mês são 6 e 1 ano dois. A saudade acompanha-te sempre, mas depressa te esqueces... e de novo voltas a tê-la como companhia... e esqueces-te de novo, e passa assim.
A minha vida não é uma vida repleta de luxos como muitos pensam ser. Uma vez que me tiraram o conforto de sempre, a vontade de vencer cresce cá dentro e cabeça erguida, em frente. Acho que valorizamos mais o passado ou qualquer acto emocional familiar. Apagamos os erros de antes e aprendemos a ser humanos de coração. Mas a independência, a aprendizagem e as contas que surgem não se pagam com a amabilidade dos outros. Paga-se com trabalho.
Paizinhos ricos não te oferecem a oportunidade de crescer, trabalhar e usar o cérebro que carregas desde sempre. Dão-te sim trabalho em aprender a crescer e ser independente... independentemente das dependências que sempre tiveste.
Escolher mudar está em ti, não ao virar da esquina. E progredir é o caminho, com sede de cultura e mais e mais conhecimento. Mas muda se estás infeliz, muda! Viver também dá trabalho.
E agora, emigrar... fica assim tão fácil, não é verdade?