MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
As raptoras do vale
  
As tecelãs reais
Expulsas
De toda terra
Viviam em festa
Quando da terra
Outro fruto
Destina o claro
Do escuro único permitido
Era como um anjo
Caído
O filho fugido
Da guerra dos contentos
Que os ventos traziam
Apenas a poeira
De tudo
Diziam ser as valentes
Arqueiras sem lar
Povoavam
Os vales somente
Onde havia as solidões
Dos varões terrenos
E um lago
Pra retirar o veneno
Da guerra
Cresciam pela magia
Fantástica
Que vivia na floresta
As fadas-flores
As ervas continham
O remédio viceral
P’ra toda vida
Que crescia
Conhecem o Terminador
E o mago perverso
Que desce
P’ro banquete
Das prometidas
Templam o ferro
E o aço
Tem as adagas-mães
Cruzadas
Como símbolo
Da bravura que violenta
O macho astuto
Querem o sangue quente
Descendo
Como veludo
Nas correntes veias
Do corpo
Tragar o beijo ardente
Da vontade de estupro
Verter por todo vale
Atrair os valentes
Que das sementes
Contidas do absurdo
Levam consigo
O que são seus iguais
Deixam p’ra elas
O que com elas
Se tornam igual
Perverteram sua sorte
Conhecendo Dévora
A ninfa protegida
Que acabou querendo
Ser Lilith
Ter seu proprio séquito
O bendito navega
Em águas calmas
Quando quer
Que as águas o levam
Ao caminho
Que contém almas
Libertas
Não aquelas mesmas
Que o corredor
Dos ventos
Traz o inferno
Vestido de jóias
Prometendo novas terras
E uma era infinita
De verdades sem guerra

Elas avistam
Um calor de olhos fulgazes
Pelo ardor
Mesclado ao sereno
Que todo vale continha
Um dragão alado
De olhos vermelhos
Na relva
Caído
Pedindo toda ira
Das trevas
Pelo que parece
Tê-lo iludido
Se funde aos terrenos
Sem suas asas horrendas
E calda serpente
Possuído de agonias
O infanto musical
A flauta-risada
Do fauno
Que olha o destino
Calado de poder
Observa agora
A vilã mágica
Que vem trágica
Tatuada de preto
O que de nua aparece
Aparece no que brilha
Um corpo de Deusa
No andar de sina
Que sabe o caminho
Que vence
Quer vingar o destino
Devolver ao que pertence
Outro ninho
Dévora se isolou
De todas
As outras
Pelo sangue que nela
Vertia
Uma das Raptoras
Que testemunhava
Tudo
Oferece sua casa
De vime-seco
Entre mandrágoras
Que faziam
De todo lugar
Um pomar de aventuras
Frutas colhidas
Davam um prazer
De ficar
No que nada de bem estar
Vinha com ela
Ela percebe o ocular
Vagante
Que observa  outro mundo
Derrepente
Se fecha de escuro
P’ra verde-castanho
O outro num claro
Entre o azul anil
De um céu
Que um dia viu
E tenta por demais encontrar
Sabe da pertença
E da sentença
Que o anelar abaixo
Que brilha
E ilumina tudo
Permite entender
Quem é
E quem quer o que
Está lá no seu fundo
O abismo que cala
Cala agora
O senhor do submundo
Dévora aceita o feito
Da Raptora-bruxa
Se aquece no leito
Onde dorme confusa
Enquanto um desfecho
Parece vir encontrá-la
De certo avisá-la
Que quem a espera
Não a tem por nenhum Desejo
A Raptora conhece
a progenitora
de sua espécie
sabe do silêncio que sorri
no horizonte
entre as nuvens
o que alenta um infortunio
também será
por testemunha
do que há de vir.