SOU INCAPAZ DE ESQUECER



 
     Urge que sempre o saibas, que nunca te esqueças: sou incapaz de esquecer. Ocorre que, por as batalhas serem sempre as mesmas... sempre as mesmas... sempre as mesmas... Sempre as mesmas de sempre ruas sem saída... encontro-me para além e para aquém de todas as minhas forças... Esquecer, sou deveras incapaz... no entanto preciso, ao menos, tentar voltar para os meus amigos - os poucos que restaram - estar junto deles, aurir da força que possamos trocar...
     Espero que saibas, que não descreias disso, ao menos: minhas preces pela menina seguem comigo, seguem comigo meu desejo de paz e de renascimento pleno para ti, eu o juro pela memória sagrada de meu pai, que nasceu em um 15 de novembro, hoje, meu pai que não nos pertence mais. Não vou partir, não o conseguiria... mas, se de novo vieres com palavras que me reneguem, palavras que nem tentem se aproximar de alguma compreensão das condições que meu tempo, há muito tempo já, atravessa... com que resto de forças conseguirei permanecer no único lugar onde ainda me cabe e é lícito permanecer? Bem, és livre, nunca deixaste de o ser, e tu o sabes.Tu o sabes. Eu, livre? Ah, para quase mais coisa nenhuma nesta vida, além desta vida que levo, por destino.
         Sei que deves estar te perguntando porque escrevo tais coisas, logo agora que... Simplesmente porque perdi de repente todas as forças... apesar da permanência do que sinto... apesar da permanência de tudo...  Perdi as forças... É isso. É isso. Perdoa-me pelas forças que não tenho... que não consigo ter... Em verdade, sou um dos seres humanos mais solitários que me tem sido dado conhecer... mas, por minha mãe, preciso me sentir ainda minimamente real... Por mim e para mim? Neste momento, não sei nada, nada, do por mim e do para mim. Gostaria de alguma coisa saber... de alguma coisa ainda vir a saber... Sabe-se lá. Por ora... Preciso continuar, por ela:  neste tempo do agora, a única coisa que realmente sei. A única que me é dado saber.