A grande limitação da política
A grande limitação da política, seja de esquerda, centro ou direita, partidária ou não, é o de girar sempre em torno da conquista, exercício ou influência do poder, institucional ou não, estatal, cultural ou mediático. E outra grande limitação é ser sempre antropocêntrica, pois é coisa da “polis”, da cidade ou sociedade dos humanos, que se ficciona separada da comunidade natural e cósmica e trata como escravos os animais e a Terra. Daí vem a importância, desde a agora grega até aos nossos espetáculos eleitorais e parlamentares, do debate público entendido como combate para vencer o adversário e colher votos e apoios. Daí a importância da oratória e da retórica que visa a persuasão, o convencer os outros de que se tem razão para se ter poder, o que, porque nunca funciona (porque os outros também pretendem ter razão e poder), conduz inevitavelmente à corrupção, à mentira, à calúnia e à difamação, quando não à agressão física e ao assassínio. A essência oculta ou patente de toda a política é o combate e a violência. E este é o problema. Porque é a desconexão e a consequente luta pelo poder, do humano sobre o humano, os animais e o mundo, que está no centro desta crise de civilização. O maior problema da política é a própria política. É por isso que ela não o pode resolver e precisamos de outra coisa. Não de política, mas da experiência social do despertar e da expansão da consciência e do amor. Que nasce do poder de ser, aqui-agora, inseparável dos outros, de todas as formas de vida, e por isso não visa o poder como domínio sobre quem quer que seja. A grande tarefa política é metapolítica: transcender e dispensar a política em sociedades humanas cada vez mais despertas, fraternas e abertas à comunidade cósmica. O que começa por abrir e expandir espaços de vida desperta, solidária e liberta, a começar pelo espaço da própria mente. Pequenos grupos de afinidade, microcomunidades em transição, germes de criatividade e libertação num mundo de instituições cada vez mais decadentes, atrofiadas e destrutivas: as políticas e todas as demais.