O professor e o aluno nas memórias de um alguém
Quando eu era adolescente muitas coisas me inquietavam, e, algumas delas ainda perturbam os espaços vazios do meu pensamento. Lembro-me de uma cena em que, numa conversa com uma colega de classe, em uma manhã fria naquele interior tão afastado do centro da cidade, eu dizia a ela que não conseguia entender como o mundo foi feito e como tudo o que nele existe, de bom e de ruim, pode ter sido criado; e, olhando o vasto céu azul, continuava dizendo que não compreendia a existência do céu e da terra, assim como me questionava a respeito de quem nos criou, porque se alguém nos fez surgir aqui, eu me pergunto de onde veio esse alguém, e quem o criou? E mais, isso um dia vai acabar? E afinal, o que é morrer?
Naquele momento eu parecia uma criança perguntando ao pai como ela nasceu. Mas, é basicamente isso mesmo! No entanto, essas perguntas pareciam não ter o menor sentido para minha colega que do outro lado da janela, pela qual nos separava, não dava importância ao que eu falava, não dava continuidade as minhas indagações, e me questionei silenciosamente se ela fazia isso por não ter esses anseios, ou, se era mais simples não pensar em coisas difíceis de serem compreendidas por nós, tão pequenos diante da complexidade de tais questões.
E nesse sentido, a escola, seria ou não o espaço mais apropriado para a discussão de tais questionamentos e consequentemente para a geração de ideias?
Ora, eu ainda estou tentando descobrir se foi felizmente ou infelizmente, mais o ensino que tive desde as séries iniciais até o segundo grau, não instigou o meu pensamento para o novo, para o incompreensível, para o duvidoso. Sim! a ciência explica a origem do universo e da existência humana, e eu era avaliada por repetir e transcrever aquilo que o meu professor dizia lá frente do quadro negro, posicionado na parede suja da humilde instituição de ensino.
Por que é mais simples a reprodução que a criação de ideias? Será por que esta última exige muito mais de nós? Ou, temos medo do que podemos pensar?
É, pensar sobre aquilo que é desconhecido talvez não seja tão útil quanto se ouvir um professor explicar as operações matemáticas, as regras gramaticais, as leis que regem o universo, os sistemas do corpo humano, haja vista que saber de tais coisas me levará a ser considerado inteligente e conhecedor das coisas. Mas que entendimento este que o mundo atual nos deu de alguém que tem conhecimento, não?
Ora, penso que como uma árvore nasce, cresce com o tempo, cria folhas e dá frutos, assim também é o homem. Ele nasce, cresce, no entanto nem sempre cria frutos, porque nem sempre suas ideias são regadas e assim os frutos não vão florir, como a roseira não gera flores se regada não for. E então, não seria o professor quem deveria regar as ideias de seus alunos? Se uma árvore dá frutos, muito provavelmente, algum ser vivo se alimentará desses frutos. Não seria assim também o homem? Se tem ideias, se o pensamento dá frutos, o mundo evoluirá ou não com isso?
Ao que parece é como se um grão de areia fizesse alguma diferença se retirado ou colocado no vasto universo. Mas, quem garante que não? Não sejamos tolos, a liberdade de andar nas ruas não deve ser melhor que a liberdade se se perder em nossos pensamentos.
Eis, então a questão: como encontrar asas para voar em nossos próprios pensamentos em uma sociedade que dita o certo e o errado? Em um sistema educacional que diz sobre o que devo e o que não devo pensar?
Enfim, pense em mim quando adolescente, como em muitos alunos que talvez tenham os mesmos e muitos outros questionamentos, e pense em minha colega como um professor em sala de aula, que deve ou pelo menos deveria, penso eu, conduzir seu aluno até o desconhecido. Afinal, com tantos mecanismos midiáticos que temos na contemporaneidade, não seria o professor a peça fundamental para a descoberta do novo e do invisível aos olhos vendados pelo sistema que nos rege?