AMO

Não amo, necessariamente, porque seja o amor unicamente humano, não tenho sinceramente subsídios para garantir abertamente esta resposta, mais ainda, em verdade creio mesmo que o amor seja animal, apenas em intensidade e complexidade menor, mas creio que amo, se é que amo, com alguma boa certeza, porque é humano amar, mas é também humano odiar, então amo porque é humano amar e porque escolhi tentar construí-lo em meu viver. Talvez não ame o suficiente, com certeza não amo o suficiente, ou o tudo que possa e deva, porque no fundo sou um fraco. Se tivesse aprendido o mínimo sobre o amor, deveria entender que ele ocorre em primeira pessoa, mas nunca para a primeira pessoa. O Amor é realizado no eu, mas sempre e obrigatoriamente para o tu, para o ele, para o nós, e para o eles. Quem ama somente por si ou pelos seus, não tem a mínima realização do verdadeiro amor. Entendo que o Amor que não vem acompanhado de revolta, que não se indigna e não se envergonha pela fome e pela exclusão de tantos, pela opressão e pelo preconceito a tantos, aqui, ali, acolá, em todo e qualquer lugar, não é amor. O amor inativo não me basta, e não se basta, nem pode se bastar. Entendo ser uma presunção crer que posso amar e me omitir, que possa amar sem me comprometer pelos outros, que possa amar sem me compromissar pela busca de dignidade humana, social e política, por uma igualdade social e de uma liberdade responsável.
Amo? Talvez não. Talvez não passe de um aprendiz que não se esforça o suficiente e nem se empenha o necessário. Porque falo isto? Pelos meus atos. Se verdadeiramente tivesse construído um real, humano, e social amor, estaria muito mais nas ruas, muito mais engajado fisicamente com o resgate do amor próprio e da dignidade humana para esta multidão de excluídos, de novo, aqui, ali ou acolá.
Como amar verdadeiramente é muito difícil, já é um ótimo início o respeito sincero pelo próximo, por qualquer próximo, aqui, ali ou acolá.
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 11/11/2014
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