DO AMOR PRÓPRIO E DA AUTOESTIMA



 
           Não há como deixar de concordar com a importância de se manter o amor próprio e a autoestima. Deve-se ajudar o próximo, seja ele quem for, sem nos perdermos de nós mesmos. Ocorre que há seres que a vida determina terem que estar sempre, sempre, onde e em tempos em que só eles mesmos e  ninguém mais têm a condição efetiva de estar junto, de estar perto, de estar em comunhão com as várias espécies de dor do(s) outro(s). Seres com muito pouco poder de escolha.  Por ser sempre assim, por ter que ser sempre assim, estas pessoas não costumam ter muita condição de se preservarem realmente, de permanecerem à meia-distância do sofrimento "alheio". Nesses casos, o chamado amor próprio e a chamada autoestima acabam por precisar adquirir outro significado e mesmo demandariam ser chamados por outros nomes que eu não saberia precisar. Quem necessitou e necessita sempre de viver assim, pode compreender perfeitamente do que falo. Àqueles que a vida permitiu disporem melhor de sua própria vida e de sua própria liberdade precisam exercitar o poder de imaginação, para tentarem compreender. Perder a vida e a liberdade que se teve é uma coisa; perder o que nunca se pôde realmente ter, é coisa diversa. Não creio - perdoem-me os especialistas - que a psicanálise e as diversas terapias deem conta de todas as respostas. Claro, remédios para dormir, antidepressivos e quejandos, são paliativos que podem ajudar muito: ninguém sensato poderia negá-lo. Esta é a minha opinião, apenas. Nada mais do que uma opinião, a partir da minha vivência pessoal. Nada além disso.Todos são antes de tudo cada um, com sua experiência individual intransferível. Com sua solidão intransferível também, às vezes com zonas de intersecção onde se tocam - e se trocam - solidões. Às vezes, e com muitos poucos seres, sempre. Que benditos sejam tais seres! Que benditos sejam!