Busca da felicidade
Perguntaram-me se eu era feliz por ser ateu. ???!!!??
Na hora fiquei meio que paralisado, não porque não tinha resposta, porem pela tentativa de não ser grosseiro e acabar melindrando ou mesmo ofendendo o questionador. Acabei devolvendo em forma de outra pergunta: Por que eu deveria ser feliz, ou mesmo mais feliz, por ser ateu?
Ser ateu é uma decisão, não é uma filosofia de vida. É muito mais que uma escolha, e não é também nenhuma terapia. Ser ateu, pelo menos para os que lá chegaram de forma natural, não implica em nada de especial, e muito menos em ser algo especial. Ser ateu apenas me define como não aceitando o teísmo, ou melhor, nem mesmo é uma questão de aceitação, é muito antes uma questão de simplesmente não acreditar na existência de deus algum, de nada transcendental, por razões minimamente lógicas e racionais. A não aceitação de um deus implicaria em por em dúvida sua existência que eu não aceitaria. Sou ateu simplesmente porque entendo que deus não existe, assim impossível qualquer aceitação em sua existência. Aceitar ou não seria um pouco como fazer uma opção sexual, não é o caso, para nenhum dos dois casos, em um, a não existência dele me impossibilita de aceitá-lo, no outro um homossexual, bissexual, heterossexual ou transexual, não fez ou faz opção alguma, ele simplesmente é, e ponto. Assim, não se escolhe em verdade ser ateu, se transforma em um. Sendo ateu, não tenho como crer na existência de um deus Abraâmico, ou de nenhum deus, nenhum ser transcendental onipotente, onisciente e onipresente, que interceda diretamente na realidade imanente de nosso viver, que tudo tenha criado por escolha deliberada, que escreveu o roteiro das vidas de cada um, e que o ajusta continuamente ao seu bel prazer, atendendo pedidos, por merecimento, por escolha própria, ou punindo.
No meu caso específico, não creio também no deísmo, no panteísmo e muito menos no politeísmo. Ser ateu não me faz melhor e nem pior do que ninguém, como já comentei, são os atos, o comportamento, o comprometimento pelos outros que podem me fazer melhor ou pior do que qualquer um. Não entendo o ateísmo como uma filosofia de vida, e nem foi o ateísmo que me levou a nenhuma filosofia em especial, foi exatamente o contrário, o estudo, a leitura do livro da vida e da realidade que me levaram naturalmente ao materialismo, a um certo humanismo secular, ao naturalismo, a paixão pela física, pela matemática, pela biologia, pela evolução, e pela neurociência, e daí o ateísmo passou a ser algo de decorrência natural. Sempre fui um pouco cético, mas esta jornada me mostrou o enorme valor do ceticismo. A busca pela verdade, a curiosidade, e algum ceticismo, me obrigaram a buscar, cada vez mais, com maior profundidade. Em primeira e última análise, foi o materialismo que me fez sair do armário e expor minha não crença em nenhum deus, ou melhor, em nenhum transcendentalismo. Creio na matéria, na energia e tudo que delas derivem ou que possam ser a elas reduzidas ou transformadas, direta ou indiretamente. Amo a humanidade como um ser animal, ou melhor, amo o humano pelo natural que ele é, e não pelo que deveria ser. Amo os animais como variação em espécie do que a minha espécie se tornou. Amo a natureza, “viva ou morta”, amo a ciência e a matemática e amo tentar chegar cada vez mais perto de toda e qualquer verdade, não da verdade como algo relativo, pois que entendo a verdade, toda verdade, como absoluta (mesmo a quântica é absoluta em si mesmo, ser estatística ou probabilística não fazem desta verdade algo relativo em si, mas sim absoluto em sua probabilidade, algo ter probabilidade de x por cento de ocorrer, não é aleatório, responde ao absoluto de ser probabilístico, a física quântica não é e nem nunca foi aleatória, ou abandonada sua realização ao total acaso, ela responde a regras de probabilidades, o que a faz absoluta em sua probabilidade), sendo assim relativa, apenas e tão somente, a nossa interpretação desta verdade, de qualquer verdade.
Não, não sou feliz por ser ateu, ou melhor não sou mais feliz por ser ateu, como não poderia ser, e como não posso ser feliz pelo que sou. Entendo a felicidade absoluta como algo impossível, utópico em si mesma, que deva ser buscada, sim, mas que jamais será plena e totalmente encontrada, assim vivemos sempre sobre o contínuo de alguma felicidade e de alguma dor e sofrimento, horas mais, horas menos. Entendo também que a felicidade absoluta e constante somente pode ser alcançada pelos alienados, pelos loucos ou pelos doentes mentais. Não posso ser feliz de toda a minha existência enquanto seres humanos sofrerem, enquanto crianças são perdidas para a miséria e o abandono social, enquanto possa ter amigos padecendo de dores, doenças e sofrimentos, enquanto vejo a natureza sendo degradada por irmãos em espécie, enquanto perco meu pai, sobrinhos e por aí vai. Não creio na existência de sábios absolutos, mas se algum existe e diz que é feliz em toda a sua absoluta realização da felicidade plena, eu somente posso dizer que ou ele é mentiroso, ou louco, ou um alienado, e sinceramente, preferiria não confiar nele. Parece-me coerente que alguns, por uma série de fatores, conhecerão maiores felicidades do que outros, mas mesmo estes ao longo de seu viver tropeçarão em algum sofrimento, alguns não se remoem tanto, alguns superam mais facilmente, mas felicidade e sofrimento são constantes em qualquer um de nós, com uma condição mental e humana normal.
Busco a felicidade, é claro. Todos devem fazê-lo, mais do que isto, todos tem a obrigação de procurar a felicidade, mas apenas alcançaremos retalhos desta felicidade, apenas nos será possível reduzir o sofrimento, minimizar seu impacto e maximizar os momentos de alguma alegria e felicidade. E o ateísmo não interfere nisto. Somente encontro alguma felicidade no relacionamento entre eu e a natureza, entre eu e o conhecimento, entre eu e os irmãos em espécie, entre eu e eu mesmo, entre o eu ativo e os eus que se escondem na espera de assumir o posto, assim, as obras, o que faço, ou a percepção de felicidades momentâneas nos irmãos me ajuda a polvilhar a minha vida com alguma felicidade também.
Perguntaram-me se eu era feliz por ser ateu. ???!!!??
Na hora fiquei meio que paralisado, não porque não tinha resposta, porem pela tentativa de não ser grosseiro e acabar melindrando ou mesmo ofendendo o questionador. Acabei devolvendo em forma de outra pergunta: Por que eu deveria ser feliz, ou mesmo mais feliz, por ser ateu?
Ser ateu é uma decisão, não é uma filosofia de vida. É muito mais que uma escolha, e não é também nenhuma terapia. Ser ateu, pelo menos para os que lá chegaram de forma natural, não implica em nada de especial, e muito menos em ser algo especial. Ser ateu apenas me define como não aceitando o teísmo, ou melhor, nem mesmo é uma questão de aceitação, é muito antes uma questão de simplesmente não acreditar na existência de deus algum, de nada transcendental, por razões minimamente lógicas e racionais. A não aceitação de um deus implicaria em por em dúvida sua existência que eu não aceitaria. Sou ateu simplesmente porque entendo que deus não existe, assim impossível qualquer aceitação em sua existência. Aceitar ou não seria um pouco como fazer uma opção sexual, não é o caso, para nenhum dos dois casos, em um, a não existência dele me impossibilita de aceitá-lo, no outro um homossexual, bissexual, heterossexual ou transexual, não fez ou faz opção alguma, ele simplesmente é, e ponto. Assim, não se escolhe em verdade ser ateu, se transforma em um. Sendo ateu, não tenho como crer na existência de um deus Abraâmico, ou de nenhum deus, nenhum ser transcendental onipotente, onisciente e onipresente, que interceda diretamente na realidade imanente de nosso viver, que tudo tenha criado por escolha deliberada, que escreveu o roteiro das vidas de cada um, e que o ajusta continuamente ao seu bel prazer, atendendo pedidos, por merecimento, por escolha própria, ou punindo.
No meu caso específico, não creio também no deísmo, no panteísmo e muito menos no politeísmo. Ser ateu não me faz melhor e nem pior do que ninguém, como já comentei, são os atos, o comportamento, o comprometimento pelos outros que podem me fazer melhor ou pior do que qualquer um. Não entendo o ateísmo como uma filosofia de vida, e nem foi o ateísmo que me levou a nenhuma filosofia em especial, foi exatamente o contrário, o estudo, a leitura do livro da vida e da realidade que me levaram naturalmente ao materialismo, a um certo humanismo secular, ao naturalismo, a paixão pela física, pela matemática, pela biologia, pela evolução, e pela neurociência, e daí o ateísmo passou a ser algo de decorrência natural. Sempre fui um pouco cético, mas esta jornada me mostrou o enorme valor do ceticismo. A busca pela verdade, a curiosidade, e algum ceticismo, me obrigaram a buscar, cada vez mais, com maior profundidade. Em primeira e última análise, foi o materialismo que me fez sair do armário e expor minha não crença em nenhum deus, ou melhor, em nenhum transcendentalismo. Creio na matéria, na energia e tudo que delas derivem ou que possam ser a elas reduzidas ou transformadas, direta ou indiretamente. Amo a humanidade como um ser animal, ou melhor, amo o humano pelo natural que ele é, e não pelo que deveria ser. Amo os animais como variação em espécie do que a minha espécie se tornou. Amo a natureza, “viva ou morta”, amo a ciência e a matemática e amo tentar chegar cada vez mais perto de toda e qualquer verdade, não da verdade como algo relativo, pois que entendo a verdade, toda verdade, como absoluta (mesmo a quântica é absoluta em si mesmo, ser estatística ou probabilística não fazem desta verdade algo relativo em si, mas sim absoluto em sua probabilidade, algo ter probabilidade de x por cento de ocorrer, não é aleatório, responde ao absoluto de ser probabilístico, a física quântica não é e nem nunca foi aleatória, ou abandonada sua realização ao total acaso, ela responde a regras de probabilidades, o que a faz absoluta em sua probabilidade), sendo assim relativa, apenas e tão somente, a nossa interpretação desta verdade, de qualquer verdade.
Não, não sou feliz por ser ateu, ou melhor não sou mais feliz por ser ateu, como não poderia ser, e como não posso ser feliz pelo que sou. Entendo a felicidade absoluta como algo impossível, utópico em si mesma, que deva ser buscada, sim, mas que jamais será plena e totalmente encontrada, assim vivemos sempre sobre o contínuo de alguma felicidade e de alguma dor e sofrimento, horas mais, horas menos. Entendo também que a felicidade absoluta e constante somente pode ser alcançada pelos alienados, pelos loucos ou pelos doentes mentais. Não posso ser feliz de toda a minha existência enquanto seres humanos sofrerem, enquanto crianças são perdidas para a miséria e o abandono social, enquanto possa ter amigos padecendo de dores, doenças e sofrimentos, enquanto vejo a natureza sendo degradada por irmãos em espécie, enquanto perco meu pai, sobrinhos e por aí vai. Não creio na existência de sábios absolutos, mas se algum existe e diz que é feliz em toda a sua absoluta realização da felicidade plena, eu somente posso dizer que ou ele é mentiroso, ou louco, ou um alienado, e sinceramente, preferiria não confiar nele. Parece-me coerente que alguns, por uma série de fatores, conhecerão maiores felicidades do que outros, mas mesmo estes ao longo de seu viver tropeçarão em algum sofrimento, alguns não se remoem tanto, alguns superam mais facilmente, mas felicidade e sofrimento são constantes em qualquer um de nós, com uma condição mental e humana normal.
Busco a felicidade, é claro. Todos devem fazê-lo, mais do que isto, todos tem a obrigação de procurar a felicidade, mas apenas alcançaremos retalhos desta felicidade, apenas nos será possível reduzir o sofrimento, minimizar seu impacto e maximizar os momentos de alguma alegria e felicidade. E o ateísmo não interfere nisto. Somente encontro alguma felicidade no relacionamento entre eu e a natureza, entre eu e o conhecimento, entre eu e os irmãos em espécie, entre eu e eu mesmo, entre o eu ativo e os eus que se escondem na espera de assumir o posto, assim, as obras, o que faço, ou a percepção de felicidades momentâneas nos irmãos me ajuda a polvilhar a minha vida com alguma felicidade também.