Entender o intuitivo é fácil

Entender o intuitivo é fácil. Entender o que nos parece óbvio é mais fácil ainda. Agora, entender não somente cada fenômeno em si, mas o submundo da realidade que possibilita o fenômeno, entender que nada precisa ser intuitivo para ser real, e que a realidade como a percebemos é subjetiva, por mais objetiva que nos pareça, pois que nunca tomamos conhecimento do mundo externo de forma direta e objetiva, e somente o conseguimos de forma subjetiva, como resultado da emergência funcional de nosso cérebro, pois toda percepção, sentimento, ou mesmo intuição, é construída mentalmente, e elevada ao nível de consciência pelo processamento neural, assim tudo que sentimos, ou percebemos, está para sempre no passado e coberto de nós mesmos, de nossos conceitos e preconceitos, coberto pelo que aprendemos, coberto de filtros, conscientes ou não, e a maioria deles inconsciente. Isto não significa dizer que o mundo ou a verdade absoluta não existam, que são construções subjetivas. Devemos de ter o devido cuidado de separar a realidade em si, o material, e as consequentes verdades físicas, da percepção que delas construímos, estas sim são subjetivas. O computador em que escrevo este texto pode não ser em nada, materialmente, parecido com o que dele percebo, mas dizer que ele não existe em realidade me parece ingenuidade. Não posso sequer garantir que o como percebo este computador, ou outra coisa qualquer, de cores a objetos, seja exatamente como você o percebe, pois que aprendemos, cada um por si, a construir subjetivamente nossas imagens, mas como aprendemos a nominar, acabamos por chamar de mesmo nome as nossas percepções. Um exemplo que gosto muito é o da percepção de cores. Normalmente, nossos olhos, os sensores responsáveis pela cor, possuem três receptores a cores, e o nosso cérebro, baseado nos impulsos elétricos desta conversão constrói a imagem consciente que fazemos das cores. Cabe comentar que já existem muitas mulheres, que possuem quatro receptores de cores nos olhos, é uma variação genética que existe na prática, e assim, o cérebro delas constrói outras imagens de cores, conseguindo até perceber variações de tons que nós os seres de três receptores não conseguimos perceber, mas como tudo é uma questão de aprendizado em nosso cérebro, elas, como nós, identificamos as cores com o mesmo nome, não porque as construímos mentalmente necessariamente iguais, mas porque nominamos determinada imagem como uma cor. Ainda sobre cores, existem pessoas sinestésicas, que percebem sabores nas cores, e são muitas estas pessoas, e elas, como nós, nos espantamos dos outros não terem a mesma percepção que nós.
Entender o intuitivo é fácil, mas intuir que a nossa intuição não garante a realidade, e nem a verdade, que a nossa intuição quase nada é, é que são elas.
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 04/11/2014
Reeditado em 04/11/2014
Código do texto: T5022795
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