A menina suicida

E então aquela menina pensou: ‘ que exploda o mundo à minha volta’. Entrou no seu casulo novamente e foi feliz. Quando ela percebeu que não precisava do amor de ninguém para viver, que não precisava do carinho de ninguém para ser feliz e que não precisava de ninguém ao seu lado para estar completa, ela sorriu. Seus olhos haviam se abrido, após longos anos de cegueira. O cachorro que a acompanhava a olhou no fundo dos olhos, como se estivesse lendo os seus pensamentos, mas ela o acalmou, dizendo que ele era tudo o que ela precisava nesta vida.

Sim, e de fato, estava revoltada com o mundo, estava revoltada com tudo. Por tantos anos, mendigando o amor de pessoas que só queriam aproveitar de seus dons e de suas capacidades, sem que olhassem no fundo da sua alma, ou que a tentassem entender; entender seus motivos para chorar, para sorrir e para sofrer. Pessoas que continuavam ao seu lado, mas que ela estava vendo, agora, de outra forma. Agora ela já começava a fazer planos para a sua vida, começava a ver que era possível neste mundo a pessoa ser feliz sozinha, e, para ela, ser ainda mais feliz do que se alguém estivesse ao seu lado.

Ela passava a entender o sentido de muitas coisas ao seu redor, o sentido de tanta crueldade, suicídio, homicídio, psicopatia... Até temeu ter um pouco disso tudo dentro dela, e entendeu: ‘tenho muito de tudo isso dentro de mim’.

A menina caminhou alguns passos com o seu cão, aplicou nele uma injeção e depois se matou.

20.10.13

A.F.

Anita Ferraz
Enviado por Anita Ferraz em 29/10/2014
Código do texto: T5015506
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