Paisagem
Daqui de onde estou, eu desenho as colinas e os vales, milimetricamente nítidos à realidade além da tela. Traço o contorno morno da lua mística, da Lua que é teimosa e aparece às oito da manhã para beijar o Sol. Meu compasso e minhas mãos vão além do tempo corrente e envergam-se nas sombras das amendoeiras. Em silêncio, o trabalho da artesã pretende contrastar o mundo com sua essência inesgotavelmente amarga, superficialmente adoçada. Leio as frestas dos montes, o verde da paisagem fora de mim, mas pouco entendo meus medos. O véu dos segredos cobre os olhos espelhados de lágrimas, os lábios molhados de desejo e dor e nada esconde o coração derramando-se na paisagem sintética e imóvel de um quadro cheirando à tinta fresca...