HOMO-PRIMATA-SAPIENS

Imortalizado pela Academia Brasileira de Letras FHC causou frisson na conjuntura da campanha eleitoral ora chegando ao fim.

Ao declarar que a população dos rincões, referindo-se ao povo do Nordeste, é desinformada soou ruidosamente como afronta e serviu para suscitar um embate contundente. Os contendores reagiram com alarde, porém sem esboçar argumentos ideológicos. Apenas se valeram do depoimento para provocar uma onda emotiva, atiçando a campanha eleitoral.

O sociólogo Fernando Henrique Cardoso fora agraciado, há cerca de dez anos, com uma cadeira na ABL. Como cientista ilustre e professor renomado figura no lacônico elenco de intelectuais brasileiros.

Autor de uma literatura ativa e de uma erudição das mais fluentes apenas aos oitenta e quatro anos de idade, Ferreira Gullar se torna acadêmico, semanas atrás. Levou mais de sessenta anos como militante das letras para galgar o pódio do reconhecimento literário brasileiro. E esta conseqüência não parece ser por ausência de vagas nas academias de letras, mas pela falta de estímulo ao saber, à compreensão das coisas.

No campo do saber o Brasil se configura em dois mundos distintos: um mundo enorme onde uma legião de desinformados, malformados e ignorantes absolutos em contraste com um punhado de intelectuais da mais refinada qualidade.

Não se pode ignorar que os estados do Nordeste e do Norte são os com mais baixa formação. Há, nessas regiões, um número muito alto de analfabetos funcionais ou de pessoas que adquiriram apenas os rudimentos fundamentais.

Repetir o que as estatísticas atestam não é discriminar. As taxas de analfabetismo no Nordeste, sobretudo, estão além das consideradas ideais pelos mais diversos entidades avaliadoras internacionais. Isso acontece pela falha na condução das políticas educativas por parte dos governantes. A desigualdade na distribuição de renda, a má aplicação de projetos promotores de cultura está a olhos vistos. São essas políticas que deixam o país escasso de homens de conhecimento mais afinado.

Um país que possui mais cérebros pensantes, cuja população adquiriu o total discernimento das coisas, é um país progressista. O cidadão bem informado não é aquele que recebe uma gama de informações superficiais, mas o que consegue detectar as subjetividades. A informação eficiente resulta na formação do cidadão. Do contrário pode descambar para a deformação.

Como a percepção dos eventos não está limitada aos olhos e aos ouvidos o indivíduo precisa ter a mente precavida para entender o universo. Pessoas desprovidas desses atributos que chamamos educação estão mais vulneráveis a permanecerem subservientes, fáceis de serem manipuladas pelo cabresto da hegemonia dos que desejam tê-los eternamente como meros eleitores.

É necessário que todos os cidadãos do país entendam o funcionamento da máquina governamental. Essa máquina chamada administração pública existe para proporcionar bem-estar, para facilitar a vida no âmbito do território nacional de todas as formas. O entendimento, entretanto, só existe a mesma máquina administrativa permitir, de que forma? Investindo na formação do cidadão.

P.S: por mais que não se saiba ainda o resultado desse pleito eleitoral tão embatido de desagradáveis incidentes, sabe-se de antemão que o povo brasileiro ainda necessita de uma boa dose de consciência intelectual.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 24/10/2014
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