Ela sempre me dizia

Depois dos amores, sonhos, empregos, úlceras, dissabores

Ainda sobrou um pouco de loucura e solidão.

Ela sempre me dizia, você vai acabar sozinho em qualquer quarto de pensão.

Ela sempre avisava, você não pode beber, aliás, você não sabe beber.

Ela me lembrava sempre dos fracassos mais vexatórios e dos nocautes mais fortes que a vida me aplicara.

Ela, sempre ela, latejando em minha mente como a pior ressaca.

Ela... elas sempre querem mais e mais. E às vezes a única coisa a oferecer é o lado mais sombrio da ausência de tudo, inclusive de grana.

Mesmo não sabendo beber esvazio o que resta do whisky. E bebendo esvazio os pensamentos mornos, jogando-os em algum canto escuro do cérebro. Mais uma garrafa vazia no canto do quarto. Quarto de pensão velha, colchão com cheiro de suicídio, paredes riscadas de angústia. A solidão, como se fosse minha namorada apaixonada, segura firme minha mão e se declara em sussurros adolescentes.

Paolo Christ
Enviado por Paolo Christ em 20/10/2014
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