Vivos ou mortos?

Estive pensando na morte esses dias. Tantas pessoas queridas se foram tão cedo. Tantos jovens que morreram de forma tão ridícula. Minhas duas irmãs morreram antes dos sessenta anos. Minha vizinha perdeu o filho para o câncer aos 30 e poucos anos. Meu filho perdeu seu amigo quando ele tinha apenas vinte e pouquíssimos anos... Minha tia adquiriu um câncer de repente, sem mais nem menos e em um ano ela se foi, magra, diferente do que era, totalmente desfigurada de sua personalidade vibrante, divertida, bonita, cheirosa e dinâmica de antes da doença Vi as fotos e seus últimos dias na terra foram a total negação de tudo que ela era e representava... minha professora de psicologia também morreu com o mesmo tipo de câncer dela. E se eu fosse ficar aqui descrevendo todas as pessoas que se foram nos últimos vinte anos teria um livro de centenas de páginas.

Mas esse não é meu objetivo. Quero somente registrar minhas conclusões leigas e particulares. Aliás absolutamente particulares.

Após meditar por dias e noites fui juntando tudo que ouvi, li, senti e é isso que quero deixar aqui nesse registro.

Minha irmã, mais velha, não se conformou tão depressa com a morte de nossa irmã número dois. Ela sentiu de forma intensa, pois as duas eram quase da mesma idade. Casaram –se com dois irmãos e tiveram as mesma sogra, sogro e cunhados. Eram muito ligadas, portanto. Contou-me seu sonho consolador: Disse-me que sonhou com minha irmã e que ela a visitava em um belo jardim.

Sentadas em um banco, conversavam:

_Porque você se foi, Nenê? Não era hora ainda. Sinto tanto sua falta.

E a resposta foi um gesto de desdém bem característico dela, como que dizendo: Há... vá! Deixa disso, isso não é o mais importante.

Também tive um sonho, estávamos em um lugar diferente, como uma chácara de lazer, dessas que se alugam. Mas ao mesmo tempo era a casa de uma de minhas irmãs. Nenê estava ao fogão, como era seu costume, seja quando vinha passar as férias em casa, depois de casada, seja quando eu a visitava em minhas férias escolares. Ela cozinhava muito bem, e muitos dos pratos que sei fazer aprendi com ela.

Ela me chamou:

_Rosinha! Vá avisar a Fátima que o almoço está pronto, e que é para ela arrumar a mesa. Tome leve essas flores e essa toalha e diga pra ela arrumar a mesa bem bonita, do jeito que ela gosta. Diga para colocar a toalha branca dela em cima dessa.

As flores que me entregou eram rosas cor de rosa, lindas e a tolha rosa no mesmo tom das flores.

A porcelana que ela apontou dando a entender que deveriam ser usadas, tinham detalhes rosados que combinavam perfeitamente com o arranjo de flores.

Peguei a toalha das mãos dela e já ia saindo, quando me lembrei que ela já não se encontrava mais entre nós. Voltei correndo para perguntar:

_Porque você se foi?

_ Ela apenas me olhou, com seu jeitinho maroto, mas não me explicou o porquê.

Acordei desse sonho com a imagem fixada na mente. E de lá para cá, tenho pensado se isso era apenas um sonho, ou uma visita ao mundo em que ela vive agora?

Desde esse dia, medito e medito sobre tudo isso. O porquê de certas coisas ao mesmo tempo sem sentido algum, mas que nos parece naturais quando acontecem com pessoas estranhas a nós, mas que nos marcam tanto quando acontecem conosco.

A morte é muito mais aceita quando não nos é tão próxima. Parece que somos seres diferentes e que certas coisas não nos acontecerão. É uma tolice pensar dessa forma, mas mais estranho ainda é o fato de que realmente vivemos nessa segurança inexistente. Somos todos sujeitos a acontecimentos tristes.

Existem religiões e religiosos, (a grande maioria deles), que acreditam que se formos firmes na nossa fé, mudaremos essa situação. Embora saibamos que não existe ser humano eterno. Porque oramos para sermos curados? Porque pensamos que precisamos ficar um pouco mais? Qual a diferença entre ir agora, ou ir daqui cinco, dez, vinte anos?

Deve mesmo existir uma ordem? Primeiro os mais velhos? Mas, e quando seremos velhos o bastante para irmos, ou deixarmos ir sem tristeza? A morte é o fim de nossa existência? Somos carne e temos uma alma? Ou somos alma e temos um corpo? Já li algo a respeito que diz que somos energia, e que quando morremos essa energia se transforma. Mas se somos energia e se como seres libertos do corpo temos inúmeras possibilidades, porque nos apegamos a esse corpo mortal e limitado? Pensei que talvez fossemos borboletas presas a um casulo, a espera de asas para voar...

Pensei também que talvez, sejamos nós que estamos mortos, e que ao nos libertarmos desse corpo frágil revivemos, livres, jovens, belos, felizes, em paz. Num lugar lindo, se considerarmos todos os relatos de pessoas que dizem ter tido uma experiência de retorno de um estado de morte.

E isso faz até sentido bíblico. Jesus disse que veio para que tivéssemos vida. E vida abundante. A bíblia também diz que somos mortos para Deus. E que esse estado de morte é o que nos mantém afastados de Deus. Ao recebermos a vida que Jesus nos dá viveríamos novamente para Deus. Eu sempre acreditei que essa vida nos seria dada após nossa ”morte”. (continua)

Rosahoney
Enviado por Rosahoney em 01/10/2014
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