Eu, eu mesmo?
Na noite fria, sozinho, cogito.
Se penso, não é porque existo
Nem porque sou bendito,
E sim por apenas ser.
Se vislumbro, ao céu estrelado,
Uma gota na pele a rolar,
É porque ainda amo.
E amando aprendo a viver,
E vivendo aprendo a amar.
Trazer as luzes à vida não é difícil,
O difícil é levar a vida às luzes.
Hoje não penso mais em alegar minhas qualidades,
Mas em esconder meus defeitos do mundo
Para que esse não lapide minha alma
Com suas idéias de etiqueta e perfeição.
Sou quem sou por ser eu mesmo
E por não deixar de ser nas horas inexistentes.
Eternidade me aguarda na mente de quem comigo já teve,
Ou mesmo que não quisesse, mas que consentiu por isso.
Fazer o tempo passar com a ilusão de ser mortal
Não é minha obrigação como ser pensante,
Mesmo que esse legado incomode a humanidade consciente.
Nesse meio termo de quem sou realmente,
Perco-me em minha mente descontente e
Enrosco-me nas garras do inconsciente.
Mas é nesse instante que me lembro de quem sou – ou
De quem pensei que era.
Se pisco os olhos – que de tão conturbados pela sociedade
Se esquivam de ver – aprecio-me na beleza
Da futilidade de estar calado de novo,
Assim como elefante envelhecido,
Que por sua insuficiência de acompanhar seu bando,
Se perde pelo caminho e morre na solidão.
Feliz daquele que fez bem uso de seu tempo,
Pois desse tirou bons frutos e destes,
Saciará sua fome.