O Amor É Como Um Isqueiro

O amor é como um isqueiro.

Quando você compra, está novo e cheio de gás. Ele acende sem o menor esforço e a chama é intensa. Então você acende o primeiro cigarro com ele.

No começo está tudo bem. O cigarro te dá prazer assim como o amor e o sexo. O prazer te consome e a chama fica cada vez melhor. Com o tempo se começa a conhecer melhor o isqueiro. Você consegue identificá-lo no meio de outros. Seja pela cor que você escolheu, pelas marcas e riscos próprios que se deixa, ou por qualquer outra coisa. Já se tem todos os truques para acender a chama sem dificuldade alguma.

Às vezes o vento bate e não é possível acender a chama. As brigas por conta do amor fazem com que a chama às vezes se apague. Porém ele volta a acender quando o vento vai embora.

Ele é seu e unicamente seu. Às vezes lhe pedem emprestado e você, com aquele receio de não vê-lo novamente, acaba cedendo. São como as saídas curtas de quando alguém vai pra longe, quer se divertir, mas não ao seu lado. Você sabe que é seu, mas o quer de volta o mais rápido possível.

Existem também os isqueiros perdidos. Às vezes você os encontra jogados no meio da rua, e o pega, na esperança de uma chama se acender. Já foi de outra pessoa, muitas vezes está bem desgastado, outras vezes está inteiro. Com algumas marcas de sofrimento, mas ainda assim, encontrar algum lhe deixa feliz.

Na esperança, você o pega e a chama se acende. O isqueiro agora lhe pertence, um achado raro, que o acaso deixou apenas pra você. Em outros casos, você o pega e o isqueiro já foi usado. Está todo marcado e o gás não existe. Esse amor é o que já foi totalmente consumido, e você simplesmente o descarta, não guardando o isqueiro vazio, pois aquilo de nada lhe serve.

Voltando para o primeiro isqueiro, aquele que você comprou. Esse com o tempo vai acabando o gás. Você se entristece, e quando ele já está quase no fim, você nem faz mais ideia de quantos cigarros já acendeu com ele. As lembranças ficam, e o cigarro que já te fez bem, agora começa a te prejudicar. O prazer se transforma aos poucos em dor. Você ainda tem uma pequena esperança de que a chama se acenda, porém já começa a sofrer antes mesmo dela se apagar totalmente.

Deixa que a chama se apague até o último segundo, e quando você menos espera... Aquele isqueiro não acende mais. É nessa hora, que desesperado pra acender o seu ultimo cigarro, você simplesmente diz: "me empresta seu isqueiro?" E a chama de outra pessoa te aquece.

Pra algumas pessoas, só existe apenas um único amor pra toda a vida. Aquelas que pensam que nunca mais voltarão a amar ninguém. Essas são as que usam os isqueiros descartáveis. Uma vez que toda a chama se apaga, ela o guarda no fundo da gaveta e sempre tenta acendê-lo, em uma tentativa inútil.

Pra outras, o isqueiro é recarregável. Quando uma chama se apaga, ela volta a recarregá-lo. Com outro gás, que agora retorna muito mais intenso do que o antigo. Ela volta então a acender o seu cigarro e acontece novamente a mesma coisa. Mas isso não quer dizer que ela simplesmente se esqueceu das outras chamas que lá, um dia, foram acesas. O isqueiro permanece com marcas. As lembranças que nunca poderão ser inteiramente apagadas. Porém a chama agora é outra.

E quando a chama se apagar novamente... "Será que você pode me emprestar o seu isqueiro?"