Carta Prisma

Olá, faz tempo que não escrevo uma carta, então não repare...

Faz tempo que penso em escrever-te, mas nunca sei exatamente como começar ou terminar...

Acabo por desistir após algumas bolas de papel arremessadas no cesto, talvez eu tenha perdido o jeito...

Eu gostaria de dizer o quanto me sentia bem ao teu lado, quanta saudades sinto...

Mas penso estar velho demais para escavar passado, velho demais para concertar a felicidade...

Meus olhos turvos de hoje gostariam de ter a clareza dos dias de antes, mas de que valeria uma excelente câmera se não saberia para onde apontar?...

Tudo parece ter um preço por aqui, isso me assusta algumas vezes, as vezes acordo no meio da noite fazendo esforço para respirar, este mundo não é o que eu costumava conhecer...

Ou talvez tenha piorado muito sem eu perceber...

Enquanto estive aqui perdido com as palavras sem saber o que dizer...

Alguém veio e me roubou o tempo...

Mas não me sinto mal por isso, tenho orgulho das palavras aqui sacramentadas, por minha pobre mente sem muito volteio vou dizendo por aqui, o que me agrada, assusta, causa dor, velicidade...

Me dá a ligeira impressão de não estar dentro deste recipiente apenas...

As folhas de papel são leves, podem flutuar no ar, com um impulso mínimo da brisa a soprar...

Como o avião de papel das crianças...

Eu penso que o tempo tenta nos enganar, fazer nos entender que estamos acabando aos poucos, reduzindo nossas cores até que nenhuma resista...

Porém observe a luz ao tocar um prisma...

E o que parecia não ter cor, sob a superfície correta torna-se uma maravilhosa explosão de cores, um arco-íris...

Minha velha máquina de escrever também esta ficando sem tinta, mas as palavras são apenas transmitidas por ela, o criador ainda estará aqui quando a tinta secar, assim como as cores acinzentadas deste velho recipiente hoje ão de desaparecer o que ele ocupa jamais terminará...

Pois, por toda parte consigo ver-me...

Minha sombra sob o sol mostra o que pode ser visto, como a luz branca solar...

Mas sei, há poucos prismas por aí para refletir todas as cores que possuo, retoma-me a calma então...

O tempo não mais me engana, ou assusta, ele passará por mim, e algo de mim levará...

Mas assim como ele deixou algo em mim, algo de mim com ele ficará, assim como o jardineiro ao entregar flores com o perfume nas mãos permanece, alguma impressão minha em algum lugar ficará, e a alguns irá tocar como um prisma revelando tuas cores que os tempos cinza de agora teimam em esconder...

Até breve, escreva-me assim que puder

Seu amigo de sempre - -

Zeu Rodrigues
Enviado por Zeu Rodrigues em 29/09/2014
Reeditado em 29/09/2014
Código do texto: T4980506
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