"ESTOU PAGANDO", QUANDO USAR ESSE RECURSO

A garota tinha trinta minutos para estar dentro da sala de aula e realizar sua prova classificatória para o mestrado que queria fazer em uma faculdade. Vagas limitadas. Após esse tempo, o primeiro que acabasse a prova poderia sair de dentro da sala. O sigilo das questões se quebraria com a saída do primeiro calouro de dentro da sala. As questões, com isso, seriam conhecidas de qualquer um que estivesse do lado de fora pronto para entrar e fazer a prova. Confereria vantagem este, se isso procedesse assim tão naturalmente, sem nenhuma norma para impedir o fato.

Mas ela chegou trinta e três minutos atrasada. O primeiro aluno a terminar a prova saíra aos trinta decorrentes. Ele teve que esperar quatro minutos além do tempo que precisou para fazer o exame. O aplicador de prova disse para ela que ele não poderia permitir que ela entrasse. Sugeriu que ela fosse ao setor de apoio ou à coordenação do concurso para tentar uma solução.

No setor, após ouvir os argumentos de um dos coordenadores, o que ela respondeu para este foi: "Tenho direito de fazer a prova, pois estou pagando". Muita gente disse "É um argumento que derruba qualquer um". Será?

Talvez esse seja o argumento menos adequado na situação. Se o aplicador de prova permitisse que um aluno saísse antes do tempo e por isso prejudicasse os trinta minutos de carência que a moça tinha, caso ele não a deixasse entrar, o argumento correto seria este: o aplicador não podia, pelo estatuto, permitir que alguém deixasse a sala antes do tempo. Se tudo corresse como nos conformes e o motivo de a garota não fazer prova fosse chegar atrasada para realizar o exame mais do que o tempo permitido, no manual do candidato do concurso estaria uma cláusula que combateria sem maiores problemas o "tô pagando".

O "tô pagando" resiste em poucas situações. A maior parte delas reside no mau atendimento. Há também a entrega de material de baixa qualidade ou a estadia em ambiente inapropriado para fazer o que se pagou para fazer. Nesses casos, envolvendo respeito e qualidade, cabe o esfregar de uma nota fiscal na cara de quem desrespeita ou oferece porcaria. Portanto, quem teme esse argumento deve pensar melhor antes de sucumbir a ele. E quem o usa deve analisar melhor o que dizer ao lutar por um direito. O argumento certo é o que prevalece em qualquer ganho de causa, por não existir contra-argumentação.