Manhã dos condenados
Você trinca, range os dentes. Chora. Grita. Esperneia. Amaldiçoa sua sorte negra. Mas no fim não adianta, o despertador se sobrepõe a tudo, preenche todos os nichos da sua vontade. Você sai da cama tropeçando no desespero, esfregando os olhos cheios de lágrimas cristalizadas, diamantes do sono, ramelas. Lavar a cara, escovar os dentes, ajeitar o cabelo, vestir-se. A eterna rotina desde sempre. Há mais de um milhão de anos que você faz isso, e até agora não se habituou. Ter de lidar com as pessoas, esses problemas insolúveis. É sempre como a última caminhada de um condenado rumo à guilhotina. Ah! Sim, é justamente isso. Um emprego é como uma lâmina que vai te decapitando lentamente, dia após dia, separando sua cabeça do seu corpo, sua carne do seu espírito.