Rio Desgovernado

Ao acordar hoje, dia 21 de Maio, e ler o jornal que sagradamente me é entregue todas as madrugadas, por um esforçado funcionário da Globo, deparo com uma notícia "corriqueira" mas dantesca, e que já não afeta a maioria dos cariocas, pela sua banalização e frequência quase que absurdamente diária, e que acaba tendo o "poder" de banalizar nossas emoções, transformando nossos corações em terreno enrijecido e alijado de sentimentos.

Na manchete do jornal está escrito: "Duas crianças e uma tia são atropeladas e mortas na calçada, por ônibus desgovernado e em alta velocidade, no suburbio do Rio de Janeiro".

Sou pai também e o que me choca nesta matéria, são as idades das vítimas envolvidas nesse lamentável e brutal acidente: 1 ano, 3 anos e 18 anos.

Independente de quem foi a culpa, já que os dois motoristas de ônibus envolvidos neste triste e lamentável episódio se acusam mutuamente, independente de qualquer coisa, duas crianças indefesas e uma menina de 18 anos, que se casaria em menos de 1 mês, já não estão mais entre nós.

E é chocante a cena do pai das crianças, alisando a cabecinha de uma delas, e chorando copiosamente agarrado ao seu sapatinho, com a incomensurável certeza, de que jamais vai poder dar um beijinho em seus filhos, e receber deles de volta um outro beijinho, um abraço, um afago, um afeto, um sorriso, um carinho e um amor.

A primeira pergunta que me vem a mente é: "No que o Rio de Janeiro se transformou? Que futuro o Rio de Janeiro está construindo para os meus, os seus e os nossos filhos?"

Pergunto isso, pois é terrivel presenciar cenas grotescas como essa, que é apenas mais um exemplo grosseiro no meio da multidão de outros exemplos dessa natureza, pois por aí andam motoristas despreparados em sua grande maioria, que exarcerbam o limite do intolerável, correndo e avançando sinais por todos os lados, colocando a vida de todos nós em perigo, com a certeza da impunidade, que alavanca essas desgraças e essas tragédias, que podem perfeitamente bater em nossas portas, pois nenhum de nós, por mais doloroso que possa ser, nenhum de nós está livre disso.

O que mais me traz indiganção, é que mesmo que aconteça uma fatalidade dessas, que poderia ser evitada, eles (esses motoristas monstros) tem a consciência de que vão responder ao processo em liberdade, e em caso de primeira condenação, jamais irão cumprir a tal pena, o que contribui claramente, para a continuação dos desmandos e desrespeitos que estamos sendo obrigados a conviver.

Continuo me perguntando: "Será que esses motoristas-monstros, não tem coração? Será que eles não tem filhos, sobrinhos, netos ou amigos?"

Na realidade, e é duro dizer isso, esse lamentável episódio carioca, é apenas mais um no meio da multidão, e outros Felipes, Andrés, Marcios, Carlos, Jorges, Leandros e muitos outros, em sua maioria crianças indefesas, vão acabar virando núimeros de estatísticas para o Governo Carioca. Enquanto para nós, pais, tios, avós, amigos e parentes enfim, eles nunca serão números: Sempre serão um de nós, de nossa carne, de nosso sangue, dos quais sentiremos uma imensa e dolorosa saudade!

Na confiança de que nossas vozes serão ouvidas,

Léo Marcondes

Vicente de Carvalho, 21 de Maio de 2007

Léo Marcondes
Enviado por Léo Marcondes em 22/05/2007
Reeditado em 22/05/2007
Código do texto: T496731