Um poema antigo - desenterrando ossos
Quem sou eu? Aonde vou? Que é a vida?
Fechado em meu palácio futurista,
A estrada afora perde-se de vista
E a minha viagem é sempre preterida.
Eu sou um louco, um Fausto, um epicurista,
A colorir de ócio as minhas horas.
Nada quero, não almejo uma conquista,
Escarneço de todas as vitórias.
Um palhaço, um bobo, um materialista,
A rir do mundo e suas vãs quimeras,
Minha alma perde-se através das eras
E o meu corpo de si mesmo dista.
Minha consciência, diz meu analista,
É dual, cheia de ocas contradições.
Mas, cá pra nós (falo com meus botões),
Ele sim é o doente e eu um artista.
Um paranóico, um místico, um budista,
Ando à procura de um calmo nirvana,
Onde, longe da natureza humana,
Me eterize sem deixar uma pista.
Palhaço de circo, malabarista,
Vivo sempre em cima da corda bamba.
Minha vida pouco a pouco descamba,
E eu danço samba porque sou flautista.
Talvez um mago, um cego, um ilusionista,
Eu não existo, nem você, leitor.
Sei que é difícil, mas olhe ao redor:
Nada comprova que você exista...
Nem o poema é real, foge na crista
Desta página escrita por um louco.
Veja bem, ele se apaga pouco a pouco,
Deixando um bilhete de adeus: “Hasta la vista!”