"Te escrevo enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis."

E admito tristemente ter cansado de todos os dramas: cansei da chatice terrivelmente exaustiva que é sofrer.

Porém, antes da despedida, antes do pulo para o velho desconhecido, eu queria que soubesses da tamanha relutância que ofereci antes de estar pronta para te deixar.

Gostaria de antes de partir pro meu mundo novo, te expor o que eu jamais fui capaz. Talvez por insegurança ou só por muito medo do seu silêncio em resposta.

E que seja você o que escolheu ser e que viva o que quiser viver, eu só preciso te ver passando feliz pela minha vida. Nunca me perdoaria se deixasse qualquer cicatriz em você.

Me entristece não ver mais o fundo dos seus olhos, é uma saudade que cabe dentro de um infinito. Mas traz paz a ausência angustiante dos seus silêncios e o vazio dos meus choros insistentes a cada vã resposta.

O meu amor por você foi grande num absurdo de extremidades: eu não precisava de você, não queria que precisasse de mim. Me bastava a sua companhia relatando qualquer experiência, rindo bobagens, trazendo novidades que eu já conhecia. Bastava o sol quente iluminando cada passo, o gramado verde calçando o chão em tardes tão verdadeiramente bonitas. O cheiro dos dias.

E é verdade, eu admito: jamais vivenciei algo do gênero e não fica fácil de esquecer e te enterrar no meio de memórias tão banais que já vivi antes. Mas sabemos que é o que me resta e sabendo disso, eu ainda me agarro no pouco que ainda tenho de você. E que preciso soltar agora, pra que você viva livremente no mundo de outra pessoa.

Livre: é o que eu quero pra você. Livre de todas as angustias que a vida traz, de toda e qualquer solidão dolorosa. Quero a alegria que você me deu em todos os seus dias. Quero a vida percorrendo cada milímetro do seu corpo.

Não tem revolta alguma pra você aqui dentro, nem sequer uma raivinha escondida em vão algum. O que tem é o que você não quis e eu te entendo. Não te culpo e te desejo toda a sorte.

Sorte em tudo o que quiser, em tudo o que precisar, em todas as estradas.

Cuida bem de você.

Deborah Braga
Enviado por Deborah Braga em 11/09/2014
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