Via Láctea.
Deitado, sentado ou andando, não dá para não olhar o céu estrelado... Nuvens deitadas no céu, verdadeira cama que acomoda a chuva.
Quando garoto, uma das coisas que embeveciam a minha alma era ficar admirando a sua beleza. Sentia a brisa que tocava leve em meu rosto.
Sentado em uma cadeira de balanço, observava, feito os átomos que se espalham entre a atmosfera, o silêncio de um povoado interior que eu visitava quando pequeno.
E o que se espalhava também naquele lugar era a sabedoria popular por entre os familiares. Sentia-me admirado pela beleza das estrelas e dos meteoros a queimar no espaço o mistério daquela imensidão... A Via Láctea...
Tentava, nas noites em que as nuvens davam passagem ao desfile das estrelas por toda órbita, contá-las. Mas levava uma negativa e a minha mão era acometida por um toque mais brusco já que a crendice popular orientava a nunca apontar para as estrelas.
Dizia a opinião dos meus pais que algo poderia surgir por entre os meus dedos, verrugas poderiam surgir feito o acoplamento do alazão de São Jorge.
Na infância, olhava a Lua no ápice do seu brilho e ali podia afirmar que avistava o guerreiro São Jorge com o seu alazão...
Parei e fiquei perplexo ao saber por uma das que ajudava nos afazeres de casa que me contou emocionada:
“Quando olhamos para o céu estrelado, e um ser tão significativo morre, esse ser não vai embora, vira estrelas.”
E são tão especiais que não se apagam em nosso íntimo, mas podemos, então, contá-las e recontá-las dentro do nosso sentimento que acomoda uma luz que se acende diante dos átomos que se espalham pela atmosfera e de lá eles que passam a nos observar por toda Via Láctea.