O retorno do filho da puta
Você pode reconhecer um filho da puta pelo cheiro. Sim, porque eles cheiram a formol, naftalina, eles cheiram a carne seca, a conserva, a picles. Eles não tomam banho regularmente, adoram a pele velha sobre a pele nova, lhes dá uma sensação de máscara, de escudo, de proteção. Os filhos da puta são muito conservadores. Todos eles possuem em seus sótãos um altar secreto em honra a Vishnu. Eles veneram Vishnu sob sua forma monetária, dourada, de finanças que jamais serão corrompidas por quaisquer inflações. Veneram a perpetuidade dos valores, principalmente dos valores que têm em seus bolsos, ou dos valores morais, éticos, familiares, qualquer valor que possam comprar e trancar dentro de um cofre, protegido por uma redoma escura dos olhares espirituais, dos juízes sobrenaturais. O filho da puta é sempre um deus aos seus olhos, vivendo indefinidamente no interior da casca de eternidade que sua superficialidade o levou a cultivar, cujo significado, dentro dos padrões clássicos de linguagem, está encerrado na compreensão da palavra APARÊNCIA. Eles um dia pagarão a Deus uma fortuna por sua entrada no céu. É por isso que todo filho da puta é, antes de tudo, o oposto de um perdulário. Ele economiza pois sabe o preço alto das indulgências, o preço real, que muitos papas não puderam pagar e que, por isso, hoje queimam no inferno. Não, o filho da puta pensa no futuro, ele pensa a longo prazo, quando nada lhe restar além da alma e alguns bilhões de dólares em ouro enterrados em algum deserto anônimo. Pois quando os anjos com suas pás desenterrarem sua fortuna, ele estará salvo, e Deus poderá fazer toda caridade que não fez aos pobres coitados que jurou amar.
(dedicado a Alberto Pimenta)