QUE ENJOO
Que enjoo de todas as explicações da realidade, religiosas, filosóficas ou científicas, espiritualistas ou materialistas, idealistas ou realistas! Que enjoo de todo este ferro-velho dos quês, porquês e para quês! Que enjoo de toda esta cultura do sentido e significado a dar à vida! Que enjoo de toda a cultura, arte e literatura! Que enjoo de tantas teorias da criação, da evolução, da reincarnação, da salvação, da iluminação, da revolução e do raio que os parta a todos! Que enjoo de tantos caminhos, vias, éticas, morais, comunidades, igrejas, mestres, professores, facilitadores e textos sagrados e profanos! Larguem-me da mão, ó conceitos de quem não sabe viver sem bengala, a agarrar-se aos corrimões da vida que os não tem, com as perninhas a tremer de medo do chão que nunca houve a fugir-lhe debaixo dos pés! Desamparem-me a loja de mitos, ritos, livros, símbolos e ideias! Deixem-me a sós com a realidade, livre da ideia de a haver! Deixem-me a sós com isto, sim, com isto, que se sente, toca, cheira, saboreia, vê e ouve, mas não tem nome! Sim, não tem, não teve e nunca terá nome! Não é classificável, não tem rótulo, não tem imagem, não entra no jogo mesquinho, triste e ridículo dos “ismos” e dos “istas”! Deixem-me a sós com isto! Deixem-me!