AMAR ALÉM DA UTILIDADE

Bom quando alguém passa a nos amar, além da nossa utilidade.
Aquela pessoa em quem confiamos, e que não irá nos abandonar, depois que nada mais restar em nós, que possa servir para ajudá-la.
Pensando sobre isso, lembrei-me de meus avós maternos. E no quanto eles me foram úteis, e no tanto que me amaram, e cuidaram de minha infância e mocidade.

E fico satisfeita, não de todo, (sempre penso, que eles mereciam muito mais) com o que pude fazer por eles, quando chegaram ao declínio físico, e ao final da vida.
Chego a conclusão, que realmente, o amor é o coroamento de toda utilidade que podemos ter para com outra pessoa.

Beirando os 90 anos de vida, meu avô Totó partiu desse mundo, e perto dos 100 anos, foi a vez da minha vó Carmela.
Ambos se foram ao final, de uma longa temporada de enfermidades, que necessitou de minha parte, muitos cuidados, noites e noites à volta de cada um deles, sem pregar o olho.
Dias, semanas, meses, e anos.... muitos anos, dedicados aos cuidados de meus queridos avós.
Banhando-os, dando de comer na boca, trocando fraldas, ajeitando no leito, com todo meu carinho, orando junto com eles, cortando seus cabelos, unhas, fazendo a barba em meu avô. 
E por fim, nos últimos dias, e nos últimos minutos, buscar coragem na minha fé, para sustê-los em meus braços, e vê-los dar o derradeiro suspiro.
Ter encontrado força, para em seguida fazer uma prece, e entregá-los a Deus, certa de que, florida era a estrada que os aguardava. Pois, generosa, amorosa, e reta foram as maneiras que eles escolherem, caminhar, nessa existência.

Depois viver o luto, a amarga saudade, abrir todas as manhãs o quarto que foi deles em minha casa, e encontrá-lo tão vazio, da presença física deles, e repleto de lembranças, de sons, de sentimentos, somente perceptíves a alma sensível.
Vivenciar a dor da separação, que mesmo, eu acreditando, ser somente física, entre almas afins, como de fato são as nossas, machuca.

Gosto de lembrar, dos banhos de sol, que com tanta dificuldade eu os levava a tomar em meu quintal, (até quando foi possível) havia nesse ato, muito mais do que simples utilidade, da minha parte. Havia amor... amor verdadeiro, que tinha esperança, (mesmo diante de um quadro final) que o calor dos raios do sol, aliado ao calor do meu afeto, pudesse devolver a eles, um pouco da força orgânica, tão combalida pela idade e pelas doenças.
Assim, a dor da perda, foi amenizando, e deixando no lugar a doce lembrança do tanto que fomos úteis, um ao outro, nessa vida, e o quanto tudo isso, contribuiu para aumentar o amor que nos uniu.

Sou muito grata aos meus avós, por tudo que fizeram por mim, mas creio que sou, ainda, mais agradecida a eles, pelo tanto que me deixaram fazer por eles, quando se tornarão  dependentes.
Nesse período de fragilidade deles, eu continuei amando-os, e tenho certeza, que muito mais, do que antes.
Sinto que, foi, nessa ocasião, que percebi a real extensão dos meus sentimentos em relação a eles. Nessa hora, nasceu em minha alma um amor generoso, que ficou no lugar de ser simplesmente útil.


(imagem: Lenapena- NY) 
Obs:. essa noite tive um lindo encontro (alguns chamam de sonho) com meus avós...

 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 14/08/2014
Reeditado em 14/08/2014
Código do texto: T4922334
Classificação de conteúdo: seguro