"A Ampulheta"

"...Enquanto muitos acham que o viver é sempre um aportar num distante futuro onde teremos tempo pra tudo, adiando coisas importantes no presente.

O tempo urge em meio ao trânsito, emails, contatos, reuniões, eventos, jantares.

Num frenesi sem pausa.

Esquecemos que na verdade a Morte é quem rege a vida, e que todo o tempo perdido não pode ser usado como milhas ou pontos no cartão de crédito.

A areia que escorrega pelo fino pescoço da ampulheta nos ilude, nós fazendo acreditar que o tempo escorrega devagar ao nosso favor.

Para quem parte, não se sabe ao certo qual o sabor.

Para quem fica, resta a saudade a dor.

Não temos o controle de nada apenas gerenciamos o que já está previamente escrito em algum lugar.

No texto da vida não existe ensaios e nem estréia.

O palco já está montado bem antes de assumimos o papel.

A iluminação pronta e o cenário é o que há de mais interessante neste espetáculo, pois muda o tempo todo.

Contracenamos com grandes pessoas, pequenas e também mesquinhas pessoas.

Encenamos monólogos e textos complicados.

Tudo isso sem direito a replay.

O espetáculo da vida é isso!

Ser dirigido pela única força concreta que sabemos ser certa.

O resto são apenas conjecturas..."

("A Ampulheta", by Carlos Ventura)